A espiritualidade salesiana abrange a formação integral do ser humano, considerando não apenas o aspecto espiritual, mas também o "civil". São Francisco de Sales aspirava a formar não apenas cidadãos fervorosos, mas também bons cidadãos da sociedade.

Francisco de Sales expressa essa devoção “civil” no livro “Introdução à Vida Devota”. Para João Pedro Camus, o grande mérito do bispo de Genebra foi ensinar a prática da devoção “no século”, isto é, na vida civil e popular. Assim, a devoção, antes percebida como exótica e distante, passou a ter uma face familiar e acessível.

Segundo Étienne-Jean Lajeunie, ele conseguiu associar “cultura e devoção, vida civil e religião, profissão e piedade”. Exemplos disso são a Santa Casa de Thonon, que formava jovens para as diversas profissões da época, e a Academia Florimontana, onde se reunia a elite intelectual para tratar de temas ligados à ciência, à religião e à vida civil. Dom Bosco compreendeu profundamente essa visão do bispo de Genebra, aplicando-a na fórmula do “bom cristão e honesto cidadão”.

Nesta edição, o Boletim Salesiano aborda temas relacionados à política e à cidadania. A Família Salesiana no Brasil realiza diversas ações que contribuem para a construção de um mundo melhor, não apenas do ponto de vista religioso, mas também social, promovendo a participação cidadã na política.

Neste mês, celebramos também o ideal missionário da Igreja. A Família Salesiana se espalhou pelo mundo graças ao empreendedorismo de nosso fundador. Como destacou o P. Martoglio em sua mensagem, Dom Bosco, em Valdocco, “alarga o coração para além de qualquer fronteira” e envia seus filhos para o mundo, mesmo sem os recursos adequados. Em todas as missões, os filhos e filhas de Dom Bosco levam consigo o ideal de formar bons cristãos e honestos cidadãos, uma preocupação que também permeia a Igreja no Brasil, que busca fornecer formação e orientação aos fiéis para que exerçam seu papel de cidadãos de maneira consciente e ética.

Uma das maneiras de viver como “honestos cidadãos” é por meio do voluntariado. José Cleudo Matos Cardoso, em seu artigo, ressalta que “Dom Bosco não estava sozinho em suas práticas educativas: sempre chamava colaboradores para ajudá-lo em sua missão”. Ele nos aponta o voluntariado como um meio essencial de compromisso humano e social, promovendo valores como cidadania e solidariedade, fundamentais para a construção de uma sociedade que rompa as barreiras da indiferença e do distanciamento, com foco na juventude.

Assim, somos chamados a dar continuidade à nossa missão de formar jovens que sejam bons cidadãos, capazes de interagir de maneira significativa na sociedade, vivenciando valores e práticas que promovam a igualdade, a solidariedade e a dignidade humana.

P. Tarcizio Paulo Odelli, SDB
Diretor do Boletim Salesiano – Brasil