Mensagem do Vigário do Reitor-Mor

Um coração grande como as praias do mar

Um tempo novo nos é dado: do coração de Deus ao coração da humanidade, no espelho do grande coração de Dom Bosco.
Pe. Stefano Martoglio – Vigário do Reitor-Mor dos Salesianos

Caros amigos e leitores, neste número de dezembro do Boletim Salesiano, escrevo a vocês com os melhores votos de um feliz ano novo! De um tempo novo que nos é dado para viver com intensidade e com “novidade de vida” e faço meu, como augúrio propício e oportuno, o presente que o Santo Padre nos deu por esses dias: a Carta Encíclica Dilexit Nos sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus Cristo.

Nós, salesianos, estamos habituados a cantar: “Deus deu-nos um coração grande / como as praias do mar. / Deus deu-nos o espírito: / libertou o seu amor”.

O Papa Pio XI, que o conhecia bem, disse que Dom Bosco tinha uma “belíssima particularidade”: era “um grande amante de almas” e as via “no pensamento, no coração, no sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Além disso, no brasão da nossa Congregação figura um coração ardente.

O Papa Francisco introduz assim o nº 2 da Dilexit Nos: “Para exprimir o amor de Jesus Cristo, recorre-se frequentemente ao símbolo do coração. Há quem se interrogue se isto atualmente tenha um significado válido. Porém, é necessário recuperar a importância do coração”.

Como é forte esta colocação do nosso Papa para nos indicar o modo novo de viver, num tempo novo que nos é dado, o ano que virá.

No n. 21, o Papa Francisco escreve: “O núcleo de cada ser humano, o seu centro mais íntimo, não é o núcleo da alma, mas da pessoa inteira na sua identidade única, que é alma e corpo. Tudo está unificado no coração, que pode ser a sede do amor com todos os seus componentes espirituais, psíquicos e também físicos. Em última análise, se aí reina o amor, a pessoa realiza a sua identidade de forma plena e luminosa, porque cada ser humano é criado sobretudo para o amor; é feito nas suas fibras mais profundas para amar e ser amado”.

istock - Marcio Binow da Silva

Que o ano novo seja para todos nós cheio e rico de substância, concretizando no acolhimento de Deus que vem ao meio de nós.

E no n. 27 desta mesma Carta Encíclica: “Perante o Coração de Jesus vivo e atual, o nosso intelecto, iluminado pelo Espírito, compreende as palavras de Jesus. Assim, a nossa vontade põe-se em ação para as praticar. Mas isso poderia permanecer como uma forma de moralismo autossuficiente. Ouvir, saborear e honrar o Senhor pertence ao coração. Só o coração é capaz de colocar as outras faculdades e paixões e toda a nossa pessoa numa atitude de reverência e obediência amorosa ao Senhor”. Não me alongo mais, esperando ter incentivado todos a lerem esta esplêndida Carta Encíclica que não é só um grande presente para viver de modo novo o tempo que nos é dado, e já seria suficiente; mas é também uma indicação profundamente “salesiana”.

Quanto Dom Bosco escreveu e trabalhou precisamente na difusão da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, como amor divino que acompanha a nossa realidade humana!

Um estímulo magnífico
Nas Memórias Biográficas, volume VIII, (páginas 243–244 do original italiano), encontramos assim escrito, em referência a Dom Bosco: “A devoção ao Sagrado Coração, que na sua alma era ardentíssima, animava todas as suas obras, dava a eficácia às suas conversas familiares, às suas prédicas e ao exercício do seu ministério, de modo que todos ficavam encantados e convencidos (diz o testemunho do padre Bonetti). Pareceu também que o Sagrado Coração cooperasse mesmo com ajudas sobrenaturais no cumprimento da sua árdua missão”.

Esse testemunho da devoção de Dom Bosco ao Sagrado Coração identifica-se “plasticamente” com a basílica homônima construída por Dom Bosco em Roma a pedido do Papa.

O edifício material remete-nos e chama-nos a todos para a “monumental” devoção de Dom Bosco ao Sagrado Coração. Tal como para Nossa Senhora, também para o Sagrado Coração a devoção de Dom Bosco manifesta-se nas igrejas que construiu. Porque a devoção ao Sagrado Coração é a Eucaristia, o culto eucarístico.

O coração de Dom Bosco, em constante amor para com a Eucaristia, é um estímulo magnífico pessoal para tornar vivo e verdadeiro este novo ano. Um verdadeiro e profundo augúrio de bom ano novo vivido em plenitude. Como prossegue o cântico: “Formaste homens / de coração são e forte: / enviaste-os pelo mundo a anunciar / o Evangelho da alegria”.

Tenho o prazer de concluir esta breve Mensagem desejando a todos, de coração, um bom ano novo, com a imagem que o Papa Francisco reporta nas primeiras páginas da Encíclica, referindo-se aos ensinamentos da sua avó sobre o significado do nome dos doces de carnaval, as “busie” - porque na cozedura a massa enche-se e fica vazia - portanto tem o exterior a que corresponde um vazio dentro; parecem cheias por fora, mas não são, são “busie”.

Que o ano novo seja para todos nós cheio e rico de substância, concretizando no acolhimento de Deus que vem ao meio de nós. A sua vinda traga paz e verdade, isto é, o que se vê por fora corresponde àquilo que há dentro! Augúrios de coração a todos vocês!

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