A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é um dos traços mais fortes da espiritualidade da Família Salesiana criada por Dom Bosco e fundamentada em São Francisco de Sales, inspirador e patrono da Congregação. Essa forma especial de devoção ao Coração de Cristo como expressão de amor a Jesus e de amor ao próximo, é destacada pelo Papa Francisco em sua mais recente encíclica, “Dilexit Nos – Sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus”.
Ao tratar sobre a difusão da devoção ao Sagrado Coração no documento, o Pontífice ressalta a contribuição de São Francisco de Sales: “Ele contemplou muitas vezes o Coração aberto de Cristo, que nos convida a habitar dentro dele numa relação pessoal de amor, na qual se iluminam os mistérios da vida. Podemos ver no pensamento deste santo doutor como, face a uma moral rigorista ou a uma religiosidade de mero cumprimento de obrigações, o Coração de Cristo lhe aparece como um apelo à plena confiança na ação misteriosa da sua graça. É assim que ele se exprime na sua proposta à baronesa de Chantal: ‘É para mim bem claro que não permaneceremos mais em nós mesmos [...] habitaremos para sempre no lado trespassado do Salvador, pois sem ele não só não podemos, mas, mesmo que pudéssemos, não quereríamos fazer nada’”.
O amor de Jesus a cada um de nós
O Papa prossegue afirmando que, para São Francisco de Sales, essa devoção significava um convite a uma relação pessoal com Cristo. Para ilustrar esse amor único, Francisco de Sales afirmava que Jesus tinha o nome de cada um inscrito em seu coração e considerava essa experiência individual de proximidade com o Salvador como algo fundamental para a vida espiritual. “Este nome próprio escrito no Coração de Cristo foi o modo como São Francisco de Sales procurou simbolizar até onde o amor de Cristo por cada um não é abstrato ou genérico, mas implica uma personalização em que o fiel se sente valorizado e reconhecido em si mesmo”, explica o Papa Francisco.
“Mas, fiel ao seu ensinamento sobre a santificação na vida ordinária, propõe que esta seja vivida no meio das atividades, das tarefas e dos deveres do quotidiano”, completa o Papa Francisco, para em seguida transcrever outro trecho de uma carta de Francisco de Sales: “Perguntais-me como as almas que são levadas na oração a esta santa simplicidade e a este perfeito abandono em Deus devem comportar-se em todos os seus atos? Respondo que, não só na oração, mas na conduta de toda a sua vida, devem caminhar invariavelmente em espírito de simplicidade, abandonando e entregando toda a sua alma, as suas ações e os seus sucessos à vontade de Deus, com um amor de perfeita e absoluta confiança, abandonando-se à graça e aos cuidados do amor eterno que a Divina Providência sente por elas”.
Espiritualidade do cotidiano
Na encíclica sobre o Sagrado Coração de Jesus, o Papa afirma ainda que São Francisco de Sales foi especialmente iluminado pelo pedido de Jesus para a mansidão e a humildade de coração (Cf. Mt 11,29). “Assim, dizia ele, nas coisas mais simples e ordinárias roubamos o coração do Senhor: ‘É necessário ter o cuidado de o servir bem seja nas coisas grandes e elevadas, seja nas coisas pequenas, pois podemos igualmente, por estas ou por aquelas, roubar-lhe o coração por amor. [...] em suma, todos estes pequenos sofrimentos recebidos e abraçados com amor satisfazem grandemente à Bondade divina”’.
Por fim, o Papa Francisco afirma que, em São Francisco de Sales, encontramos uma chave de resposta ao amor do Coração de Cristo, percebendo que este é também o amor ao próximo. Esse ensinamento é transcrito na encíclica a partir de um dos sermões de Francisco de Sales (Sermão para o XVII Domingo depois de Pentecostes): “Nosso Senhor ama-nos sem interrupção, suporta as nossas faltas como as nossas imperfeições; […] devemos, portanto, fazer o mesmo em relação aos nossos irmãos, jamais deixando de apoiá-los”.