Em 27 de outubro de 2024, cerca de cinco mil fiéis assistiram à missa conclusiva da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, presidida pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro. Dirigindo-se aos cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos e leigos presentes, Francisco afirmou que é tempo de refletir sobre a postura da Igreja diante dos desafios atuais e de acolher os que mais sofrem.
Recordando a passagem do cego Bartimeu, o Papa ressaltou: “É bonito que o Sínodo nos impulsione a ser Igreja como Bartimeu: a comunidade dos discípulos que, ouvindo passar o Senhor, sente a emoção da salvação, deixa-se despertar pela força do Evangelho e começa a gritar-Lhe. E o faz acolhendo o grito de todos os homens e mulheres da terra: o grito dos que querem descobrir a alegria do Evangelho e dos que, pelo contrário, se afastaram; o grito silencioso dos indiferentes; o grito dos que sofrem, dos pobres e dos marginalizados; a voz quebrada dos que já nem sequer têm força para gritar a Deus, porque não têm voz ou porque se resignaram (...) Não precisamos de uma Igreja sentada e desistente, mas de uma Igreja que acolhe o grito do mundo e suja as mãos para servir o Senhor”.
“Coragem, levanta-te, Ele te chama”
Ao encerrar a homilia, o Papa Francisco exortou os presentes a deixarem para trás qualquer resquício de resignação que possa ter invadido a Igreja, e incentivou a comunidade a confiar a própria “cegueira” a Deus para, como fez Bartimeu, levantar-se e seguir o Senhor. “Coragem, levanta-te, Ele te chama. Coloquemo-nos de pé e levemos a alegria do Evangelho pelos caminhos do mundo”, concluiu Francisco.
A missa de encerramento foi muito significativa e esclarecedora sobre a importância do Sínodo e sobre o que o Papa Francisco e a Igreja esperam dos cristãos católicos a partir de agora. Após um processo de consultas e debates nas dioceses iniciado em 2021, de encontros nacionais e continentais e de duas sessões internacionais intensas – uma realizada em outubro de 2023 e outra em outubro de 2024 –, a Assembleia Sinodal aprovou, em 26 de outubro, um documento de 155 parágrafos que traz como título: “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão”.
O documento foi inteiramente assumido pelo Papa Francisco para que seja divulgado e possa imediatamente inspirar a vida da Igreja. Como afirma o próprio documento em sua introdução: “O processo sinodal não se encerra com o término da Assembleia, mas inclui a fase de implementação”.
O coração da sinodalidade
O Documento Final é composto por cinco partes, cada uma delas aberta por uma referência bíblica que organiza a mensagem, mostrando seu percurso e chamando os fiéis a serem testemunhas do Evangelho não apenas com palavras, mas com gestos concretos. A primeira parte, intitulada “O coração da sinodalidade - Chamados pelo Espírito Santo à conversão”, aborda os fundamentos das reflexões feitas durante o Sínodo, incluindo as raízes sacramentais do Povo de Deus, o significado e as dimensões da sinodalidade, a unidade como harmonia, a espiritualidade sinodal e a sinodalidade como profecia social.
A segunda parte, “No barco, juntos – A conversão das relações” trata sobre a comunidade cristã na pluralidade de suas vocações, carismas e ministérios para a missão, reforçando a importância de estarmos juntos pela missão.
Na terceira parte, ‘“Lançai a rede’ – A conversão dos processos”, o documento identifica três práticas interligadas: o discernimento eclesial, os processos decisórios e a cultura da transparência da prestação de contas e da avaliação. A quarta parte é intitulada “Uma pesca abundante – A conversão dos vínculos” e delineia como é possível cultivar e inovar o intercâmbio de dons e o entrelaçamento de vínculos que nos unem na Igreja.
Por fim, a Parte V, ‘“Também eu vos envio’ – Formar um povo de discípulos missionários” indica que o primeiro passo a ser dado é promover a formação de todos para a sinodalidade missionária.
Na conclusão, “Um banquete para todos os povos”, o documento afirma: “O sentido último da sinodalidade é o testemunho que a Igreja é chamada a dar de Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, Harmonia do amor que se derrama fora de si mesma para se dar ao mundo. Caminhando em estilo sinodal, no entrelaçamento das nossas vocações, carismas e ministérios, e, indo ao encontro de todos para levar a alegria do Evangelho, podemos viver a comunhão que salva: com Deus, com toda a humanidade e com toda a criação. Desta forma, graças à partilha, começaremos já a experimentar o banquete da vida que Deus oferece a todos os povos”.
O texto conclui com uma oração à Virgem Maria para que “Ela, Mãe da Igreja, que no Cenáculo ajudou a comunidade nascente a abrir-se à novidade do Pentecostes, nos ensine a ser um Povo de discípulos missionários que caminham juntos: uma Igreja sinodal”.