Sínodo

Sinodalidade à luz do carisma salesiano: a comunicação na Igreja

No nosso DNA de Família Salesiana está a habilidade da comunicação da Palavra. Hoje, com todos os meios à disposição das novas mídias, o que não fariam Dom Bosco e Francisco de Sales?
Pe. João Mendonça, SDB

Dom Bosco foi um comunicador claro, nos limites do seu tempo. As Leituras Católicas, O jovem instruído, o Boletim Salesiano, A história eclesiástica etc., para citar apenas algumas de suas iniciativas, tiveram grande sucesso e penetração na sociedade. Ele escrevia para um público específico: os jovens. Porém, conseguia ir além e chegava aos adultos católicos e não católicos, inclusive agnósticos e estudiosos que apreciavam os escritos. A literatura de Dom Bosco era voltada à ação evangelizadora e o centro era a Palavra de Deus.

Na escuta sinodal, um dos elementos importantes é a palavra da Igreja pela qual ecoa o Evangelho, a Palavra de Deus. Na síntese brasileira considerou-se que a voz da Igreja é respeitada e o uso dos meios de comunicação tem favorecido essa presença, sobretudo com a Pastoral da Comunicação (Pascom). Porém, há riscos: as fake news, as polarizações religiosas e políticas, a falta de formação de comunicadores católicos, o clericalismo que monopoliza a Palavra. No processo sinodal é preciso enfrentar este desafio. Interessante que na síntese universal (DEC), não aparece a questão da comunicação da Palavra, trata-se de uma lacuna que é preciso investigar.

Hoje, com todos os meios à disposição das novas mídias, o que não fariam Dom Bosco e Francisco de Sales?

O clero e o uso da Palavra
Aparece bastante contundente na escuta sinodal do Brasil a constatação de que “as autoridades eclesiásticas – clero – falam em nome do Povo, e os cristãos leigos(as), quando falam, são designados pelo clero. Desaparece a compreensão de que todos os batizados deveriam ser aptos para comunicar a fé em comunhão com os ensinamentos da Igreja”. Quais seriam as causas? Alguns aspectos são mencionados: “Insegurança, timidez, individualismo, ignorância, impaciência, falta de coragem, desrespeito, intolerância e medo” (síntese brasileira). Há um déficit crítico do pensamento e do posicionamento dos católicos quando o assunto é o uso da Palavra.

No carisma salesiano, o uso da Palavra está na origem de nossas práticas. O patrono dos salesianos, São Francisco de Sales (1567-1622), foi um homem da Palavra, comunicador, que escreveu uma obra espiritual fantástica, a Introdução à vida devota, narrando a experiência do amor de Deus. Então, no nosso DNA de Família Salesiana está a habilidade da comunicação da Palavra. Hoje, com todos os meios à disposição das novas mídias, o que não fariam Dom Bosco e Francisco de Sales? Será que ficariam tímidos, inseguros e escondidos com medo de expor a beleza da Palavra? São Paulo exortava Timóteo: “Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina” (2Tm 4,2). Quer dizer, o uso da Palavra não é monopólio de ninguém, mas da vocação de ser Povo de Deus.

Formação para comunicar a Palavra
A síntese sinodal brasileira destacou a necessidade premente de formar o Povo de Deus para o uso da Palavra, pois, para muitos, a Igreja, como instituição, se comunica mal com o povo em geral e consigo mesma. Sente-se que a forma de comunicar não chega às pessoas, não ultrapassa a linha do clero e fica limitada aos meios eclesiais, sem ressonância na sociedade. Quando acontece, por exemplo, de alguma comunicação ser contundente, então os meios fazem ecoar a Palavra, como aconteceu na 59ª Mensagem dos Bispos sobre o cenário brasileiro. Rompeu a bolha da timidez porque falou ao coração do povo, sobre os problemas do povo e com a linguagem do povo. Isso requer formação cada vez mais crítica e sem medo das avaliações que podem ser feitas.

Nesta perspectiva incentiva-se, na síntese brasileira, que o engajamento político dos cristãos leigos precisa sair do papel afim de que a voz da Igreja ecoe nos âmbitos sociais, sendo um parâmetro sempre crítico contra a exclusão, preconceitos e polarizações. Neste sentido, a escuta sinodal foi um incentivo para permanecer na escuta atenta dos clamores da sociedade e gera em todos nós a esperança de que não podemos calar no uso da palavra e da Palavra de Deus. No próximo artigo iremos refletir sobre a celebração, que é também palavra, gesto e louvor.

Tem início o Sínodo dos Bispos

Foi realizada de 4 a 8 de outubro, no Vaticano, a primeira sessão da Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, como tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.

Convocado pelo Papa Francisco, o Sínodo contou com três anos de preparação, em um itinerário que contemplou escuta, discernimento e consulta às instâncias da Igreja Católica. Primeiro, foi feita uma ampla consulta a partir das Igrejas locais. Depois, realizaram-se as sínteses nacionais e continentais, que serviram de base para a elaboração do Instrumentum Laboris, o documento-base para a Assembleia sinodal.

Esta Assembleia reúne bispos, religiosos e leigos para refletir sobre as realidades atuais da Igreja no mundo, e acontece em duas sessões: a primeira foi realizada em outubro deste ano e a segunda será em 2024.

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