Em 1885, perto do seu onomástico, Dom Bosco deixou a cidade de Turim. O calor da cidade teria acabado por exauri-lo; por isso, os Superiores, também por sugestão médica, pediram-lhe que concedesse a si mesmo um período de descanso num clima mais ameno. Ele quis satisfazê-los, retirando-se no dia 15 de julho para Mathi. O cardeal arcebispo Alimonda, seu afetuoso amigo, teve a bondade de levar-lhe pessoalmente seus cumprimentos e votos. Durante a conversa Sua Eminência perguntou-lhe:
– Como vai a situação em casa?
As finanças estão magras?
– Eh, respondeu Dom Bosco. Veja: tenho aqui uma promissória que está para vencer. Trata-se de devolver ainda hoje trinta mil liras, e eu não tenho nada.– Então, como faremos?
– Como faremos? Confio na Providência. Está aqui uma carta registrada que chegou há pouco. Alguma coisa deve ter dentro dela.
– Vamos ver, vamos ver! disse o cardeal.
Aberto o envelope, despontou um cheque bancário de trinta mil liras. Não se pode expressar a reação do arcebispo; homem de grande coração, lágrimas rolaram de seus olhos.
Quando Dom Bosco contou, na intimidade, este episódio, acrescentou um segundo, ocorrido dois dias antes sob os olhos do padre Lazzero. Este, no Oratório, devia cobrir uma grande dívida; mas, recolhendo todo o dinheiro, ainda faltavam mil liras. A única esperança era Dom Bosco. O padre Lazzero voou para Mathi. O Santo lhe disse:
– Veja, tudo o que tenho está aqui, nesta carta registrada.
Abriu-a: continha precisamente um cheque de mil liras. Dom Bosco, ao fazer essas narrações, intercalava agradecimentos à Divina Providência, incitando todos a serem agradecidos e a depositar nela toda a confiança.
Por associação de ideias, parece-nos oportuno referir aqui uma conversa de Dom Bosco com o conde Paulo Capello, de San Franco, que, a respeito, escreveu um pró-memória. O conde, em 1885, ainda não conhecia o Santo; por isso, durante uma breve parada em Turim, devendo entregar-lhe uma oferta, quis aproveitar a oportunidade para se encontrar com ele. Dom Cagliero o levou até Dom Bosco, que o encontrou sentado numa poltrona com as pernas estendidas sobre duas cadeiras. Ajoelhou-se, beijou-lhe repetidamente a mão e lhe entregou cem liras em ouro.
O Servo de Deus, ao recebê-las, mostrou-lhe um monte de cartas e envelopes que tinham chegado havia pouco e lhe disse as seguintes palavras textuais: “Hoje de manhã, esteve aqui o padre Rua e falou-me da urgência de encontrar uma considerável soma de dinheiro, porque hoje vencia uma promissória de valor elevado, e naquele momento ele não dispunha de um centavo. Eu lhe respondi que também não tinha dinheiro algum, mas que confiava na Divina Providência, que certamente ela resolveria o caso. O padre Rua saiu daqui visivelmente preocupado. Entretanto, chegou do correio uma espantosa quantidade de cartas. Abro a primeira que apanho por acaso e encontro nela uma soma bastante importante enviada por um Cooperador e que superava a quantia solicitada pelo padre Rua. Apanho uma segunda em meio a uma centena de cartas: era de um anônimo que fazia outra oferta bastante generosa. Então mandei chamar o padre Rua, que ficou maravilhado e teve que tocar com a mão a intervenção da Divina Providência”.
A evidente origem providencial dos seus meios pecuniários nos explica o conceito que Dom Bosco tinha do dinheiro. Um dia, o pároco Della Valle lhe perguntou a respeito do rápido desenvolvimento da Congregação graças à contínua ajuda fornecida pela Providência, e ele respondeu:
– A Congregação florescerá enquanto os Salesianos souberem apreciar o dinheiro.
Palavras que devem ser entendidas em sentido espiritual: para ele, apreciar o dinheiro significava valorizá-lo devidamente, porque é Deus quem o manda, a fim de ser empregado segundo o espírito e o escopo da Congregação.
Padre Osmar A. Bezutte, SDB, é revisor da nova tradução das Memórias Biográficas de São João Bosco (Editora Edebê).