O tema “Inteligências artificiais e paz”, proposto pelo Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz, que será celebrado em 1º de janeiro de 2024, traz presente a sua preocupação para que se desenvolva “um diálogo aberto sobre o significado dessas tecnologias”, a fim de que sejam realmente utilizadas de “forma responsável” e que estejam “a serviço da humanidade e pela proteção da Casa Comum.
A preocupação com a utilização das inteligências artificiais também está presente no discurso de outras lideranças mundiais, como é o caso do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres. No dia 18 de julho, durante um debate proposto pelo Conselho de Segurança da ONU, Guterres fez uma ampla exposição sobre o tema. Segundo ele, a inteligência artificial tem um grande potencial para dinamizar o desenvolvimento mundial em ações como a vigilância da crise climática, as pesquisas nas áreas médicas, podendo inclusive ser utilizada para ampliar a conquista dos direitos humanos, sobretudo, em relação às questões sanitárias e de educação.
Por outro lado, a inteligência artificial também pode ser utilizada para reforçar a discriminação, ampliar os conflitos e facilitar o poder de regimes autoritários, representando um grande risco para a paz e a segurança mundiais. Se utilizada por pessoas mal-intencionadas, a inteligência artificial pode ser uma arma poderosa com fins terroristas, criminosos ou estatais, com alto nível de morte destruição.
Inteligência artificial e questões de segurança
Na verdade, grupos políticos e econômicos já vêm utilizando a inteligência artificial para disseminar notícias falsas, desinformação, discursos de ódio e promover a polarização política, manipulando, assim, o comportamento humano e gerando instabilidade política e social.
No Brasil e no mundo já são bem conhecidas as ferramentas e plataformas utilizadas para minar as eleições, espalhar teorias de conspiração e incitar o ódio e a violência. Se estes danos já são visíveis e impactam altamente a sociedade, são ainda mais preocupantes se pensarmos no uso das inteligências artificiais associadas às armas nucleares, biotecnologia, neurotecnologia e robótica. Assim, a preocupação com a paz e a segurança mundiais é um tema que precisa ser debatido e trazido para a sociedade.
Como essas tecnologias ainda são muito novas, faltam normas de segurança e regulamentação que orientem a sua utilização. É muito difícil um controle sobre as pessoas e grupos que as utilizam e como as utilizam, bem como sobre até que ponto podem ser utilizadas, pois podem chegar a qualquer parte do mundo sem deixar vestígios. Há também elementos éticos que precisam ser conhecidos e discutidos pela sociedade. Em especial os ambientes educativos precisam estar inseridos nessas discussões a fim de preparar as novas gerações para enfrentar os problemas éticos e morais que essas tecnologias podem trazer e para que estas as utilizem em favor do bem e da paz universal.
Inteligência artificial e desigualdade social
Para o Papa Francisco, outra grande preocupação é sobre como essas tecnologias podem servir para aumentar as desigualdades no mundo, não apenas em relação às riquezas materiais, mas também em relação às diferenças de acesso à influência política e social. Segundo o pontífice: “Somente formas verdadeiramente inclusivas de diálogo podem permitir-nos discernir sabiamente como colocar a inteligência artificial e as tecnologias digitais ao serviço da família humana”. Para ele, as tecnologias são extremamente necessárias, desde que tenham como centro a pessoa humana e respeitem valores como a inclusão, a transparência, a segurança, a equidade, a privacidade e a fiabilidade.
Do ponto de vista da educação salesiana, que se caracteriza por uma postura humanista e busca estar inserida nas grandes temáticas e dilemas do tempo presente, é importante que as instituições de ensino, bem como religiosos, religiosas, educadores e formadores de opinião que atuam nas diferentes instâncias, estejam inseridas nessas discussões.
O compromisso educativo de formar bons cristãos e honestos cidadãos exige um constante estudo, aprofundamento e discernimento crítico, pautado nos valores evangélicos para adentrar nessas questões que impactam diretamente a vida de nossas sociedades.