Boletim Salesiano - O que é a REPAM? Ela foi criada com quais objetivos?
Ir. Maria Carmelita de Lima Conceição - A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) é um organismo eclesial, criado em setembro de 2014, fruto do percurso feito pela Igreja profética encarnada no território amazônico, fundada pelo Conselho Episcopal Latino-americano e Caribenho (CELAM), o Secretariado Latino-americano e Caribenho Cáritas (SELACC), a Conferência Latino-americana e Caribenha de Religiosas/os (CLAR) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). É uma plataforma de articulação sinodal, de compartilhamento de experiências e serviços para responder às necessidades do território dos 8 países e um território ultramarino da Pan-Amazônia (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela).
A REPAM é uma Rede vinculada à Igreja Católica, que tem por objetivo promover a vida, por meio do cuidado dos povos, territórios e ecossistemas amazônicos e do incremento da consciência da importância da Amazônia para toda a humanidade, por meio de uma atuação socio eclesial articulada. Atua na defesa da vida dos povos e da biodiversidade amazônica, por meio dos Núcleos Temáticos: Formação e Métodos Pastorais, Justiça Socioambiental e Bem Viver, Direitos Humanos e Incidência Política, Povos Amazônicos e Territórios e Comunicação para a transformação social que se constituem como linhas de serviços transversais. A REPAM constrói uma relação intrínseca com a Amazônia, pois o cuidado desse território é sua razão de ser.
O presidente da REPAM, dom Rafael Cob, bispo de Puyo, define os 10 anos como “um caminhar de benção, de esperança, de justiça e também um caminhar de trabalhar e tecer a paz”. Igualmente, ele destacou a capacidade da REPAM de unir e trabalhar em equipe, sublinhando a importância dessa plataforma que une vontades, ações e pensamentos em defesa da vida na Amazônia e do cuidado da Casa Comum.
BS - O que podemos celebrar nesses 10 anos da REPAM?
Ir. Carmelita - A REPAM nesses 10 anos tem sido uma presença marcada pela profecia da denúncia, promovendo uma visão colaborativa pela Casa Comum, somando forças com outros movimentos sociais que buscam responder aos clamores dos povos e do bioma amazônico, em defesa da vida. Desde a sua fundação, em 2014, tem como objetivo cultivar a sinodalidade como capacidade de escuta das pessoas, na articulação de esforços evangelizadores para “caminhar juntos” e ser uma Igreja com rosto amazônico, na defesa dos direitos e territórios indígenas.
Nos 10 anos da Rede Eclesial Pan-Amazônica, as juventudes de diferentes faces (indígenas, caboclos, ribeirinhos, quilombolas, extrativistas, migrantes, habitantes de áreas rurais e urbanas de nossas cidades, moradores das periferias e fronteiras) se tornaram uma força que permitiu que a Rede avançasse com os pés no presente, semeando vida e esperança para o futuro da Pan-Amazônia. Eles sofrem as consequências de vários projetos de exploração que afetam o território e pedem à Igreja que continue tecendo redes, aprofundando a consciência amazônica, as questões socioambientais, a espiritualidade ecológica e a justiça intergeracional; especialmente no que diz respeito às suas lutas e aspirações.
Celebramos a caminhada, marcada por atitudes de respeito e gestos de compromisso concreto que vêm se consolidando de forma institucional e eclesial, unindo forças com Comissões que têm impacto na Pan Amazônia. Segundo Ir. Regina da Costa Pedro, diretora das POM Brasil (Pontifícias Obras Missionárias), é uma celebração para “visibilizar a história e o caminho sinodal em defesa da Amazônia e da ecologia integral, celebrar os frutos do trabalho das pessoas e organizações que constroem a Rede, desenhar novos caminhos para a articulação da Rede na sinodalidade na Igreja Amazônica”.
BS - De que forma o carisma da Família Salesiana e particularmente das FMA da Amazônia contribui para a REPAM?
Ir. Carmelita - O carisma salesiano é uma experiência espiritual que se baseia na caridade pastoral e na evangelização. A espiritualidade salesiana é alegre e apaixonada pela vida. A dimensão ecológica e o carisma estão relacionados com a ideia de cuidar da Casa Comum e de agir em harmonia com a vocação da Igreja Católica, através da encíclica Laudato Si’ e da exortação apostólica Laudate Deum, destaca a importância da proteção ambiental. A relação entre o carisma salesiano e a ecologia pode ser exemplificada pela preocupação com a sustentabilidade por projetos de solidariedade com os mais pobres; grupos que atuam por meio de energia solar; o respeito pela natureza.
Como família procuramos fazer um caminho sinodal para alargar o mais possível a tenda, em um contexto cada vez mais individualista. O Papa Francisco fala sobre a ecologia integral na Laudato Si’ como forma de ler o mundo na sua integralidade, descobrindo suas interconexões e procurando sentir-se parte de um todo. No lançamento do projeto “Tempo da Criação”, período de 1º de setembro a 4 de outubro em que os cristãos se reúnem para orar e agir pela Criação, Dom Ángel Artime, Reitor-Mor emérito dos Salesianos, afirmou que “toda criatura é um ser perfeito e o planeta em que vivemos, nossa Casa Comum, foi criado como um todo harmonioso, formado de seres que vivem juntos sem poderem viver uns sem os outros. Vamos manter vivo este fio que nos une uns aos outros e a Deus” (Vídeo - 2022).
“A ecologia integral no espírito do Sistema Preventivo pode ser vista sob as chaves de leitura: razão, religião, amorevolezza, proximidade/relação profunda com o mundo natural e um estilo de vida simples”, afirmou a Ir. Alessandra Smerilli, FMA, durante o Seminário na Inspetoria SEC – 2023. “A Carta” (documentário baseado na Encíclica Laudado Si’, lançado pelo Papa Francisco, em 2022) foi amplamente explorado nas comunidades educativas e religiosas salesianas, fomentando a conscientização sobre a Encíclica e a emergência ecológica; foi motivada pelo âmbito da pastoral e assumida pelas Inspetorias SDB e FMA do mundo como um caminho de conversão, fundamentado nas Escrituras, incentivando a empenhar-nos cada vez mais no cuidado com a Casa Comum.
No Brasil também, posso dizer que estamos crescendo nessa consciência à medida em que ficamos atentas à natureza que grita por socorro, nos alertando para a convivência preventiva com os seres criados, buscando uma conversão transformadora e gradual na consciência, na escuta, nas escolhas de vida e nas relações interpessoais no estilo salesiano.
BS - O que podemos esperar para o próximo período?
Ir. Carmelita - Nesse contexto jubilar, completado 10 anos cuidando da querida Amazônia, desejamos que a REPAM continue defendendo os direitos dos povos, seus territórios, com um olhar amoroso, solidário e esperançoso sobre a Amazônia. Que recomece sua segunda década com um empenho sempre renovado para cuidar e defender qualquer emergência socioambiental que ameace os territórios e povos ancestrais;.que os Núcleos Temáticos continuem se organizando e expandindo sua incidência nos lugares onde ninguém quer chegar; que cresçam a consciência e a motivação para o trabalho em conjunto com outras forças sociais e eclesiais, que amplie os espaços para todas as pessoas de boa vontade, independente de religião ou crença, mas que prevaleça a defesa da Casa Comum e seus habitantes.
Que o Deus da Vida sustente os povos de todas as raças que lutam pela soberania alimentar, pelo cuidado com a biodiversidade e que possamos construir uma Igreja com rosto amazônico.
Louvemos a Deus pelo testemunho de homens e mulheres que doaram e continuam doando suas vidas nesse chão, na defesa do seu povo; que seu sangue seja semente de Vida na querida Amazônia.