Dom Bosco Hoje

Missionários salesianos: sinal de esperança para o povo xavante

Os missionários salesianos na Missão Indígena de Sangradouro, MT, são como âncoras para o povo xavante; mesmo diante dos desafios que são apontados na realidade desse povo originário, atuam por meio de uma missão evangelizadora inculturada e educativa salesiana, preferencialmente, à juventude xavante
José Cleudo Matos Cardoso

A Estreia 2025, em sintonia com o Jubileu Ordinário proclamado pelo Papa Francisco, vem nos falar de Esperança. O tema da Estreia nos apresenta a palavra “ancorados” – “Ancorados na esperança”. Mas de que forma nós, Família Salesiana, somos uma âncora para os outros, principalmente para a juventude indígena? Como atuamos, com os jovens indígenas, ancorados na esperança cristã e no espírito de Dom Bosco?

Na Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário, o Papa Francisco diz: “A imagem da âncora é sugestiva para compreender a estabilidade e a segurança que possuímos por meio das águas agitadas da vida, se nos confiamos ao Senhor Jesus. As tempestades nunca poderão prevalecer, porque estamos ancorados na esperança da graça, capaz de nos fazer viver em Cristo”. Desse modo, nas intempéries da vida, precisamos ser ancorados e ancorar os demais.

Nesse sentido, os missionários salesianos na Missão Indígena de Sangradouro, MT, são como âncoras para o povo xavante que ali vive; mesmo diante dos desafios que são apontados na realidade desse povo originário, atuam por meio de uma missão evangelizadora inculturada e educativa salesiana, preferencialmente, à juventude xavante.

A comunidade salesiana em Sangradouro
De acordo com o site da Missão Salesiana de Mato Grosso (MSMT), “com a chegada dos Salesianos em Mato Grosso, no ano de 1894, se expandiu a assistência aos povos indígenas. Primeiro, na Colônia Teresa Cristina, em 1894. Depois, em Meruri, em 1902; em Sangradouro, em 1906; e, em São Marcos, em 1957” (https://www.missaosalesiana.org.br/sao-jose-de-sangradouro/).

Hoje, a comunidade de São José do Sangradouro, MT, é formada por 68 aldeias. Os missionários salesianos desenvolvem atividades religiosas, educativas, de assistência social e de evangelização inculturada, cuidando da identidade e da riqueza cultural desse povo originário. No período da Pastoral de Férias, realizado em janeiro de 2025, tive a oportunidade de fazer uma convivência na comunidade de Sangradouro juntamente aos missionários salesianos e ao povo xavante. Nessa ocasião, começamos a dialogar sobre de que forma os missionários salesianos são sinal de esperança para aquele povo originário, sincronizando essa provocação com as temáticas da Estreia 2025 e do Jubileu da Esperança.

istock - Marcio Binow da Silva

Os salesianos não são traidores, querem o nosso bem, se preocupam com a gente. Ensinaram coisas de Deus para nós.

Sinais de esperança
Na conversação sobre como os missionários salesianos representam um sinal de esperança para o povo xavante de Sangradouro, o padre Amércio Rezende de Oliveira, diretor da comunidade, afirma: “A nossa presença traz segurança para os xavante, em diversas circunstâncias, principalmente, no que diz respeito à terra, ao seu lar e aos seus costumes. A evangelização que fazemos é inculturada, pois respeitamos o modo de ser e de agir dos xavante; o nosso Missal e Lecionário são traduzidos na língua deles, ou seja, eles rezam em língua própria, o que reafirma o nosso compromisso com a cultura deles”.

Nesse mesmo sentido, o padre Juan Carlos Ingunza Uscola, missionário “ad gentes” da Espanha, esclarece: “Os missionários salesianos acolheram bem os xavante na questão da terra, na formação dos jovens e no acompanhamento das aldeias. De certo modo, abrimos horizontes para as crianças e jovens xavante diante do contexto cultural deles e do mundo urbano, progredindo na sua formação social e educativa, bem como no mundo do trabalho. Os xavante esperam algo de nós”.

Acresce que, ainda no diálogo sobre ser sinal de esperança, padre Joseph Tran Van Lich, missionário “ad gentes” do Vietnã, que também atua em Sangradouro, relata: “As nossas ações são sinais de esperança junto aos xavante. Aqui desenvolvemos oratório, formações, cursos, esportes..., mas precisamos despertar mais lideranças nas aldeias”.

Além disso, o missionário salesiano nos fala do seu processo missionário “ad gentes”, que também é um gesto de esperança. Ele diz que “na missão ‘ad gentes’ há um deslocamento total da sua cultura e da sua terra para poder servir aos outros. É fundamental descobrir a presença de Deus na cultura e na história do povo para o qual você foi enviado. Desse modo, a primeira tarefa do missionário é enxergar Deus no povo xavante, contemplar o rosto de Deus presente no rosto dos xavante; é sincronizar o rosto de Deus que eu tenho com o rosto de Deus que o outro tem. Deus se manifesta em cada pessoa, portanto, precisamos descobrir a beleza de Deus Pai Criador. Somos sinal de esperança quando despertamos o que o povo tem de bom e quando fazemos com que ele caminhe com seus próprios pés”.

Liderança xavante
Levando-se em conta o que foi apresentado, também dialogamos com uma liderança xavante da aldeia mais próxima da residência salesiana. Quando interpelado sobre os missionários salesianos como sinal de esperança para o seu povo, ele respondeu: “Sem os salesianos, nós não estaríamos aqui, não teríamos terra e nem casa. Eles nos acolheram e cuidam de nós até hoje. Os salesianos não são traidores, querem o nosso bem, se preocupam com a gente. Ensinaram coisas de Deus para nós. Respeitam o nosso jeito de viver. Dom Bosco é homem de Deus. Os salesianos são homens de Deus. Estamos juntos há muito tempo” (texto com adaptações gramaticais).

Portanto, peregrinando com o povo xavante, os missionários salesianos são sinal de esperança, pois estão com eles, para eles, a serviço da vida, anunciando a Boa-Nova de Jesus, a verdadeira âncora. Sendo sinal de esperança, âncoras na Igreja Missionária Indígena, “sob a proteção de Maria, a mãe da Evangelização e Senhora Auxiliadora, renova-se a confiança na força revolucionária da ternura e do afeto, expressões da pedagogia da presença, para que as Igrejas Indígenas [...], parcelas da Igreja Católica, como testemunhas do Reino de Deus, sejam casa para muitos, mãe para todos e sinal de esperança de um mundo novo” (trecho retirado do livro “Juntos na Missão – como comunidade cristã missionária Boe-Bororo e A’uwê-Uptabi” – Missão Salesiana de Mato Grosso, p. 9/ Evangelli Gaudium, 288).

José Cleudo Matos Cardoso é psicólogo, especialista em Salesianidade pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e formando da Missão Salesiana de Mato Grosso – BCG.

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