Missões

Celebrar e relançar!

O Seminário Americano promovido pela Associação dos Cultores da História Salesiana foi uma bela experiência de leitura crítica da presença salesiana e de sua contribuição para a sociedade, não só na Argentina, mas também em outros países da América.
Pe. João Mendonça, SDB / Foto: Marcos Lima

Com uma intensa programação de cunho histórico, foi realizado de 3 a 7 de junho em Buenos Aires, Argentina, o Seminário Americano promovido pela Associação dos Cultores da História Salesiana (ACSSA). O evento, que fez parte das comemorações pelos 150 anos da Primeira Expedição Missionária Salesiana, teve 45 membros participando presencialmente, provenientes de vários países, além de cerca de 90 participantes on-line. Foi uma bela experiência de leitura crítica da presença salesiana e de sua contribuição para a sociedade, não só na Argentina, como também em outros países da América.

A conferência inaugural foi proferida pelo cardeal salesiano dom Daniel Sturia, do Uruguai, que colocou em evidência a contribuição dos salesianos para a ciência e a educação: a criação da rede de meteorologia, as escolas profissionais, estudos geográficos e etnográficos, o trabalho intenso pelas vocações autóctones e, também, as lacunas pelas quais devemos saber pedir perdão.

A presidente da ACSSA mundial, irmã Maria Maul, FMA, e o secretário da instituição, padre Stanislaw Zimniak, SDB, também tiveram a oportunidade de se pronunciar. O inspetor da Argentina Sul, padre Daniel Pereira, SDB, e a inspetora, irmã Silva Boullosa, FMA, também deram as boas-vindas aos participantes e acompanharam todo o evento. Padre Mario Crisafulli e irmã Ruth Del Pilar, conselheiros para as Missões dos Salesianos de Dom Bosco e das Filhas de Maria Auxiliadora, respectivamente, enviaram mensagens de reconhecimento do valor do Seminário.

História salesiana e os povos originários
O seminário foi organizado em cinco blocos temáticos, cada um com a apresentação de vários estudos. O primeiro bloco, sobre a história salesiana, teve dois estudos apresentados: as comunidades fundadas pela Ir. Maria Troncatti, que será canonizada em breve, no Vicariato Apostólico de Méndez, Equador, de 1925 a 1965 (Ir. Sandra Armijos) e o impacto da presença salesiana na indústria americana enológica de 1900 a 1965 (Alfredo Baroni).

Entre os estudos do segundo bloco, sobre os povos originários, foi destacada a figura do padre Carlos Crespi Croci, missionário no Equador (1881-1982), homem eclético de grande capacidade de trabalho e ações sociais e de promoção humana, cuja causa de beatificação está em curso. Outra presença em destaque foi a ação dos salesianos entre os povos originários Wallmapu da Argentina, sobretudo a presença ousada e criativa do padre João Cagliero que, com sua sede pastoral, cruzou os Andes, transformando, numa expressão do assessor, padre Walter Paris, as cordilheiras em pontes de união entre os povos originários numa corajosa ação evangelizadora.

A irmã Célia Parintins, representando as FMA da Amazônia, deu uma boa contribuição com a apresentação de sua pesquisa sobre a chegada e presença das FMA na região do Alto Rio Negro, de 1915 a 1950, com a obra Elas tiveram coragem. Foi muito enriquecedor o estudo sobre a presença das FMA no Mato Grosso entre 1895 e 1962, que deixou marcas entre os povos Bororo e Xavante, tema apresentado pela irmã Ivone e pela irmã Maria Imaculada. Tive também a oportunidade de apresentar minha pesquisa sobre a presença dos salesianos entre os povos originários Bororo e Xavante e do Alto Rio Negro, entre 1917-1965, com a grande contribuição do padre João Balzola. Muito interessante ainda a exposição do padre João Bosco Maciel, de Campo Grande, sobre o martírio do padre Rodolfo Lunkenbein e do indígena Simão Bororo, cujo processo de beatificação já está em Roma.

Marcos Lima
Marcos Lima
Marcos Lima

Olhar o passado com gratidão, viver o presente com intensidade e projetar o futuro com coragem missionária.

O campo da saúde e os museus
No terceiro bloco, a temática da saúde foi abordada com a reflexão sobre a missão salesiana nos hospitais da região do Rio Negro entre os séculos XIX e XX (Maria Andrea); seguida pelo tema dos salesianos no mundo do trabalho em Bogotá de 1890 a 1965 e entre os povos da Bolívia nos anos 1896 a 1974 (Monica Stella Jiménez); bem como a presença salesiana na Bolívia entre os povos indígenas Aymara e Quechua entre 1896 e 1974 (Thelían Argeo Corona).

Também tivemos a oportunidade de refletir sobre a importância dos museus salesianos e dos arquivos nas inspetorias, com as palestras sobre os museus salesianos no Brasil entre os anos de 1924 e 1962 (Marcos de Lima), que trouxe também a perspectiva do Museus da Obra Salesiana no Brasil - MOSB; o projeto Rizoma e o arquivo histórico salesiano na América Central (Pamela Alarcón); e o arquivo histórico salesiano no Chile (Leonardo Santibáñez e Andrea Aguayo).

Filhas de Maria Auxiliadora
O quarto bloco retomou as reflexões sobre a atuação missionária das Filhas de Maria Auxiliadora: as FMA na América Central entre 1903 e 1928 (Maria Alma Patrícia); os distúrbios em Cuba e a presença das FMA em Porto Rico entre 1879 e 1900; as FMA nas Malvinas de 1907 a 1942 (Ana Maria Fernández); e o envio missionário das FMA do Uruguai à América Central entre 1879 e 1900 (Martha Franco).

Os temas foram bem variados, apresentando desde a ação missionária das FMA no campo da educação e promoção da mulher, até entre os povos excluídos devido à hanseníase, caso colombiano de Água de Dios e Contratación, com a presença tanto das FMA como de dois grandes salesianos, o padre Luís Variara, servo de Deus, e o padre Uria.

Arquitetura e educação
Por fim, o quinto bloco de estudos deu destaque para a Arquitetura, com apresentações sobre a atuação do arquiteto Américo Juan Bautista Bonetti em 1880 a 1930 (José Amilio e Iván Ariel); o padre Ernesto Vespignani e sua contribuição na arquitetura religiosa da Argentina entre 1890 e 1930 (Gonzalo Violante); e o estilo arquitetônico do padre Ernesto Vespignani, cujas obras estão presentes em vários países da América, e sua contribuição salesiana na Basílica de Maria Auxiliadora no Peru (David Franco Córdova).

no campo da educação tivemos o estudo sobre as escolas profissionais no Peru entre 1891 e 1940 (Jorge Atarama), que foi importante sobretudo em Lima, em uma ação que rompeu com a elite aristocrática e favoreceu a ação popular. Fechando o bloco, o salesiano cooperador Rodolfo Luís Leite apresentou alguns aspectos de sua tese de doutorado sobre a evolução do ensino superior no Brasil, especialmente com a contribuição salesiana no ensino superior e a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Lorena, SP (1950).

Como podemos perceber, a contribuição salesiana teve um alcance muito grande, que enriqueceu a cultura na América desde a presença evangelizadora até a arquitetura, sempre com o intuito de promover de forma integral a ação educativo-evangelizadora.

Visita aos lugares históricos
No último dia do Seminário tivemos a oportunidade de realizar um passeio histórico nos lugares salesianos de Buenos Aires. Fomos à primeira igreja, na época uma capela dedicada a Nossa Senhora da Misericórdia, onde os salesianos iniciaram sua missão. Fomos também ao bairro La Boca e visitamos a primeira paróquia salesiana do mundo dedicada a São João Evangelista. Ali os salesianos chegaram com a iniciativa do padre João Cagliero e assumiram os trabalhos de evangelização. Também visitamos o arquivo histórico mantido pela Inspetoria da Argentina Sul e tivemos a celebração eucarística na bela Basílica de Maria Auxiliadora, uma joia da arte gótica construída pelos salesianos. Um dia inteiro de peregrinação por lugares sagrados que nos fizeram entrar ainda mais em sintonia com a corajosa iniciativa missionária de Dom Bosco.

Participar de um evento como este foi uma oportunidade para conhecer melhor a história missionária, repensar seus métodos e relançar o futuro. Oxalá a celebração desses 150 anos da Primeira Expedição Missionária Salesiana nos ajude a olhar o passado com agradecimento a Deus, viver o presente na contemplação da herança que recebemos e projetar o futuro com o dinamismo da evangelização.

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