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Comunicar esperança para conter espiral do medo

Ir. Márcia Koffermann, FMA / Foto: iStock-Valerii Honcharuk

Em sua mensagem para o 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que teve como lema: “Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações”, o Papa Francisco fez presente a importância de vivenciar uma comunicação que gere esperança, que impulsione o ser humano a andar sem medo em direção ao Reino de Deus.

A esperança é a virtude que permite romper as barreiras do medo e sonhar com um mundo diferente, possível, mas ainda não concretizado. Não é certeza otimista, nem desilusão pessimista, mas um olhar realista que projeta possibilidades e encoraja as pessoas a seguirem caminhando, lutando e perseverando diante das possíveis quedas que sofram pelo caminho.

As mídias e a formação de “bolhas”
Do ponto de vista midiático, somos constantemente bombardeados por notícias ruins: guerras, violência, conflitos, roubo, corrupção, tragédias, catástrofes e uma série de outras situações que acabam gerando medo, fechamento e desconfiança entre as pessoas. Diante da insegurança gerada, as pessoas tendem a buscar os seus iguais, levantar muros, criar inimigos, buscar culpados, refugiar-se em posições conservadoras, apegar-se ao passado e atacar os que pensam de forma diferente. O medo é utilizado como mecanismo de defesa e manipulado para formar opinião, gerar coesão e dar respostas simplificadas a temas que precisam de uma análise mais complexa.

As mídias digitais, pela sua capacidade de viralização e formação de “bolhas”, tende a amplificar o sentimento de medo e desconfiança, apelando constantemente aos instintos de defesa e proteção, potencializando a polarização do “nós contra eles”. Nesse contexto, é urgente recuperar a esperança. A esperança, ao contrário do medo, abre as portas, rompe as barreiras, busca a unidade na diversidade, dá espaço para a utopia.

istock / Xavier Lorenzo

A esperança rompe as barreiras do medo e nos impulsiona a sonhar com o novo.

É interessante observar a atitude dos apóstolos depois da morte e ressureição de Jesus. Antes da vinda do Espírito Santo, encontravam-se fechados, com medo, desanimados, sem esperança e sem saber o que fazer. Quando recebem o Espírito Santo, tudo muda em suas vidas. Saem com alegria para anunciar o Evangelho, não temem mais ser contrariados, presos ou torturados, mas abrem-se para novas possibilidades. A esperança que nutriam no coração era tão grande que chegam a romper com as tradições do judaísmo e ir ao encontro dos pagãos, permitindo, assim, que o cristianismo se consolidasse e expandisse. O novo não os assusta nem limita as suas ações. Não tinham certeza nenhuma de sucesso, tanto que muitos enfrentam o martírio e o fazem com alegria porque o horizonte que tinham a frente era maior e sabiam que valia a pena lutar.

Um novo Pentecostes
O mundo de hoje precisa de um novo Pentecostes para abrir nossos corações e mentes para o novo que Deus nos dá. Precisamos nutrir-nos de sonhos alcançáveis que nos movam para uma ação fecunda. Queremos um mundo sustentável, justo e igualitário? Sonhemos, projetemos esse mundo e demos passos em direção ao novo. Como educadores e comunicadores cristãos, ousemos partilhar sonhos, lançar metas, propor mudanças; engajemo-nos em ações comunitárias, porque, como diz o Papa Francisco, “a esperança é sempre um projeto comunitário!”.

O mundo já tem notícias ruins demais, está saturado de desinformação e corroído pelo medo. Precisamos da profecia da esperança e da busca pela verdade. Precisamos recuperar o sonho da civilização do amor para não retrocedermos à barbárie. É preciso sair do círculo vicioso dos “vídeozinhos” das redes sociais para lançarmos um olhar crítico e criativo sobre a realidade, para olharmos nos olhos das pessoas reais que cruzam o nosso caminho, para olharmos as margens das nossas comunidades e vermos o sofrimento real e concreto de nossos irmãos. É só confrontando-nos com a realidade concreta que seremos capazes de caminhar em direção ao Reino sonhado por Deus e alimentado pela esperança cristã que não engana nem ilude, mas que nos impulsiona a seguir unindo forças e lutando por um mundo melhor.

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