No último dia 7 de maio, o Congresso Nacional, em Brasília, DF, concedeu uma Moção de Louvor ao professor Ary Júnior, por sua dedicação à causa ambiental e ao compromisso com a promoção de uma sociedade mais justa e sustentável. Este foi somente um dos reconhecimentos mais recentes aos projetos inovadores realizados pelo professor de Geografia do Instituto Santa Maria Mazzarello, colégio da Rede Salesiana Brasil (RSB) no Recife, PE.
“O carisma salesiano propõe uma educação integral, que tem um olhar para a formação acadêmica sem esquecer as questões sociais e a nossa Casa Comum. A minha ideia é justamente tentar integrar no processo educativo esses projetos que tenham um impacto social e ambiental”, explica Ary Júnior. Assim, em seus 12 anos como professor do Mazzarello e contando sempre com o apoio do corpo diretivo do colégio, o professor vem colocando em prática o tripé do sistema educativo salesiano, aliando a educação formal acadêmica (razão), a preocupação com o próximo e com a Criação (religião) e a atenção amorosa que incentiva o protagonismo dos estudantes (amorevollezza).
O “olhar de uma nova geração”
Os projetos encaminhados pelo professor Ary Júnior no Instituto Mazzarello têm uma história de desenvolvimento e criatividade. O primeiro a ganhar destaque nacional foi o trabalho “Desvendando o efeito estufa”, produzido pelos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental II, que em 2016 venceu a 22ª Feira Ciência Jovem na categoria Trabalhos em Geral. Uma das mais antigas e prestigiadas feiras de ciências do Brasil, a Ciência Jovem é organizada pelo Espaço Ciência com o apoio do governo de Pernambuco.
Em 2022, o Mazzarello voltou a participar da Feira Ciência Jovem e conquistou o 1º lugar geral, desta vez com um projeto que envolveu os estudantes do Ensino Fundamental I e II: “Capibaribe: Sob o olhar de uma nova geração”. “Começamos a estudar o rio Capibaribe com a proposta de conhecer a sua história e como a cidade foi sendo ocupada a partir do rio”, rememora o professor.
No ano seguinte, o olhar dos jovens identificou a necessidade de estudar o potencial do rio Capibaribe para a navegabilidade. “Nessa proposta de discussão, a gente percebeu que os barcos que seriam usados eram movidos a óleo diesel, então trouxemos o projeto ‘Ecocapibaribe: a navegabilidade através de um barco sustentável’, de um protótipo de barco movido a energia solar”, conta ele. O protótipo foi desenvolvido pelos estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental II, os jovens Luara Silva, Lorena Estelita, Larissa Germano, Alice Silva, Rafael, João Guilherme e Matheus Ferreira; e gerou um projeto de lei para viabilizar a produção dos barcos sustentáveis.
Carta do Papa Francisco
O pensamento crítico dos estudantes continuou a ser desenvolvido, sempre alinhado com os conteúdos da disciplina de Geografia. Assim, a partir do projeto do barco movido a energia solar, eles estudaram o surgimento das ilhas de calor e o efeito estufa, gerados pela emissão de gases com a queima de combustível fóssil – que é usado também nos motores dos barcos convencionais. E como reduzir o efeito estufa? A proposta foi a implementação de um “telhado verde” no colégio. “Foi a partir desse trabalho que eu recebi uma carta do Papa Francisco”, relembra Ary Júnior ao se referir à bênção apostólica pelo seu compromisso socioeducativo com o meio ambiente, encaminhada pelo Pontífice em 12 de novembro de 2024.
Ecologia integral
Em 2025, a Campanha da Fraternidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) trouxe o tema da Ecologia Integral, e este foi o mote para mais um projeto inovador no Instituto Mazzarello: o “E-Connect Recycle”. Criado por alunos e ex-alunos da escola salesiana, o aplicativo digital tem como objetivo transformar a realidade dos catadores de materiais recicláveis do Recife, facilitando a comunicação entre eles, identificando locais de compra e venda desses materiais e informando os preços mais justos.
Ary Júnior explica que “a proposta de uma ecologia integral é justamente buscar a proteção ambiental sem esquecer as questões sociais e econômicas. Porque eu não posso chegar para uma pessoa que está em situação de necessidade econômica e simplesmente dizer que ela precisa cuidar do meio ambiente. Então a ideia é contribuir para uma economia circular e mais ecológica trabalhando junto com essas pessoas, que são os catadores de materiais recicláveis”.
Para implementar o projeto, o professor contou com o apoio de ex-alunos do Instituto que hoje estudam ou estão formados em Tecnologia e Sistemas de Informação. “São jovens que foram meus alunos desde o 6º ano aqui no Mazzarello, e é muito gratificante ver todo esse processo e o vínculo criado com a escola”, comemora Ary Júnior, para em seguida concluir: “A gente procura oferecer a esses jovens a formação acadêmica, mas sem esquecer que fazer ciência é também despertar o senso crítico do estudante, para que ele perceba o mundo em que vive e se sinta protagonista em ações efetivas na transformação da sociedade”.