Neste ano, estamos celebrando o Jubileu da Esperança, e, com a Estreia de 2025, nós, Família Salesiana, voltamo-nos para a vivência da nossa espiritualidade pascal, ancorados na esperança que é Jesus, o Bom Pastor. Neste percurso, identificamos o Beato Miguel Rua como diretriz, pois o seu testemunho de amor a Dom Bosco é um dos grandes exemplos de fidelidade à sua consagração apostólica.
Em 2025, celebramos 170 anos dos primeiros votos de Miguel Rua (1855); em seguida, festejamos os 165 anos da sua ordenação presbiteral (1860); ainda se acrescentam os 115 anos de sua morte (1910) e, por fim, 53 anos da sua beatificação pelo Papa Paulo VI (1972). No clima de Jubileu da Esperança, não podemos deixar de registrar esses fatos memoráveis do nosso querido sucessor de Dom Bosco, que passou 22 anos à frente da Congregação após o falecimento do seu fundador.
O primeiro sucessor de Dom Bosco
Miguel Rua nasceu no dia 9 de junho de 1837, em Turim, filho de Giovanni Battista Rua e Giovanna Maria Rua. No dia 25 de março de 1855, fez a sua primeira profissão religiosa nos Salesianos, no quarto de Dom Bosco. Miguel Rua, em 1858/1859, acompanhou Dom Bosco na audiência com o Papa Pio IX para a aprovação das Regras. Em 29 de julho de 1860, ele foi ordenado sacerdote pelo bispo Dom Giovanni Balm e, em novembro de 1884, o Papa Leão XIII o nomeou como Vigário e sucessor de Dom Bosco, assumindo o governo da Congregação de 1888, após a morte de Dom Bosco, a 1910, quando veio a falecer.
Com Miguel Rua, a Congregação passou de 773 a 4.000 salesianos; de 57 a 345 casas; de 6 a 64 inspetorias, em 33 países. Miguel Rua faleceu no dia 6 de abril de 1910, com 72 anos. Tornou-se Venerável em 26 de junho de 1953, pelo Papa Pio XII, e foi beatificado no dia 29 de outubro de 1972 pelo Papa Paulo VI, sendo que a sua Festa Litúrgica ficou estabelecida no aniversário da sua beatificação.
Pontos de destaque
Há alguns pontos que merecem destaque na relação entre Dom Bosco e Miguel Rua: seus pais faleceram quando ainda eram crianças; e as suas mães colaboraram no Oratório de Valdocco, sendo que a mãe de Miguel Rua, Giovanna Maria Rua, se estabeleceu no oratório após o falecimento de Mamãe Margarida, em novembro de 1856, atuando por mais de vinte anos como “mãe da jovem sociedade”. O nosso santo fundador um dia falou para Miguel: “Nós dois faremos tudo meio a meio”. E, de fato, a vida de Miguel Rua ficou totalmente vinculada à de Dom Bosco.
Quando Rua chegou ao Oratório de Valdocco, com cerca de 10 anos de idade, ele se sentiu imediatamente atraído pelo carisma de Dom Bosco. Miguel Rua não foi a sombra de Dom Bosco, mas o seu apoio em muitas das suas empreitadas. Não foi uma cópia, mas um “outro Dom Bosco”, com estilo e personalidade próprios. Porém, era notória a semelhança de um para com outro: isso fez com que recebesse a alcunha de “Regra Salesiana Viva”, ou seja, internalizou em seus gestos e atitudes os traços amorosos do seu pai espiritual.
Um “outro Dom Bosco”
Miguel Rua foi o grande colaborador de Dom Bosco em suas ações: cuidava dos meninos no oratório, ajudou na Companhia da Imaculada Conceição com São Domingos Sávio, ensinou matemática aos oratorianos, dava assistência no refeitório e no pátio, bem como na capela. Copiava à noite as cartas e publicações de Dom Bosco, cuidou da direção do Oratório Festivo São Luís, abriu a primeira casa salesiana fora de Turim, em Mirabello, ficando ali como reitor de 1863 a 1865; foi também o primeiro diretor das Filhas de Maria Auxiliadora e sempre acompanhava Dom Bosco em suas viagens. Quando se tornou o vigário da Congregação, promoveu sua expansão missionária, conforme já citado.
Ao olharmos para Miguel Rua, percebemos um verdadeiro ardor missionário e uma paixão por Jesus Cristo, por meio de Dom Bosco. Miguel Rua tem muito a nos ensinar sobre como vivermos a nossa espiritualidade salesiana como discípulos do Senhor, fortalecendo, sobretudo, a bondade e a caridade pastoral, caracterizadas pela predileção à juventude, principalmente a mais pobre, abandonada e em situação de risco.
Discípulo e amigo
Mais do que um discípulo de Dom Bosco, Miguel Rua foi um amigo. E é esta a outra lição que devemos aprender com ele: somos realmente amigos de Dom Bosco? Levamos a obra de Dom Bosco sempre à frente, como fez Miguel Rua? O biógrafo de Miguel Rua, o salesiano Aragon Ramirez, em seu livro Beato Miguel Rua afirma: “Dom Bosco sonhou à larga, e Dom Rua o realizou [...]. Dom Bosco ‘inventou’ seu Oratório, e Dom Rua o enriqueceu com novas modalidades. Dom Bosco mostrou aos salesianos obras precisas em favor dos jovens, e Dom Rua os levou por caminhos novos”.
Assim como Miguel Rua, nós, Família Salesiana, somos convidados a sermos “outro Dom Bosco” em nossas ações educativo-pastorais, vivendo uma experiencia contextualizada diante dos desafios do mundo contemporâneo em que crianças, adolescentes e jovens de hoje estão inseridos.
Além disso, da mesma forma que Miguel Rua fez “da fonte um rio”, conforme nos lembra o Papa Paulo VI, também nós devemos multiplicar os nossos dons, olhando para Dom Bosco, “homem de Deus e homem dos jovens”, e para a sua paternidade afetiva, com espírito de comunhão. Devemos ser, assim, missionários e portadores da esperança em face das respostas que a juventude, principalmente a mais vulnerável, espera de nós.
José Cleudo Matos Cardoso é psicólogo e especialista em Salesianidade pela UCDB (Universidade Católica Dom Bosco). Jaguaribe, CE.