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Desinformação e mudanças climáticas: um desafio urgente da COP 30

A desinformação climática consiste na disseminação deliberada ou inconsciente de conteúdos falsos ou distorcidos sobre o aquecimento global, suas causas e consequências.
Ir. Márcia Koffermann, FMA / Foto: iStock/oatawa

A realização da COP 30 em Belém, em 2025, representa um marco histórico para o Brasil e para a Amazônia. Pela primeira vez, uma Conferência das Nações Unidas sobre o Clima ocorre no coração da maior floresta tropical do planeta — um bioma essencial para o equilíbrio climático global e símbolo da urgência ambiental que o mundo enfrenta. No entanto, ao lado das negociações políticas e científicas, há outro desafio igualmente crucial: o combate à desinformação sobre as mudanças climáticas.

A desinformação climática — também chamada de climate misinformation ou climate denialism — consiste na disseminação deliberada ou inconsciente de conteúdos falsos ou distorcidos sobre o aquecimento global, suas causas e consequências. Esse fenômeno se expandiu com o avanço das redes sociais e dos sistemas de Inteligência Artificial, que amplificam informações enganosas, criam “bolhas” de opinião e dificultam o acesso a dados científicos confiáveis. Grupos de interesse econômico e político exploram essas brechas para desacreditar o consenso científico e atrasar ações urgentes de mitigação e adaptação.

Negar o aquecimento global ou relativizar sua gravidade tem consequências diretas. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a elevação média da temperatura global já ultrapassa 1,49°C em relação aos níveis pré-industriais, provocando eventos extremos cada vez mais intensos: secas prolongadas, enchentes devastadoras, ondas de calor e perda de biodiversidade. Quando a desinformação faz parecer que “nada está acontecendo” ou que “a ciência exagera”, ela reduz o senso de urgência coletiva e desmobiliza políticas públicas e compromissos internacionais.

iStock / carlo prearo

A COP 30 é uma oportunidade para o Brasil mostrar ao mundo que a transição ecológica passa também pela transição informacional.

Causas da desinformação
Compreender as causas da desinformação é essencial para enfrentá-la. Ela nasce da combinação entre interesses econômicos (como o lobby de setores dependentes de combustíveis fósseis), dinâmicas de comunicação digital (que premiam conteúdos emocionais e polarizadores) e lacunas educacionais (que dificultam a leitura crítica das informações). No Brasil, o desafio é ainda maior: a diversidade cultural e territorial exige estratégias de comunicação que considerem diferentes públicos, línguas, saberes e formas de percepção da natureza.

Combater a desinformação sobre as mudanças climáticas requer ações integradas. No campo educacional, é urgente fortalecer a educação climática e midiática, promovendo o pensamento crítico e a capacidade de distinguir fontes confiáveis. No jornalismo, é necessário investir em checagem de fatos, contextualização e divulgação acessível da ciência. As universidades e centros de pesquisa devem se aproximar das comunidades e dos meios de comunicação, traduzindo o conhecimento técnico em narrativas compreensíveis e mobilizadoras.

A COP 30 é uma oportunidade para o Brasil mostrar ao mundo que a transição ecológica passa também pela transição informacional. Garantir que a sociedade tenha acesso a informações verdadeiras e de qualidade é condição para qualquer avanço sustentável. Belém, com sua rica diversidade sociocultural e ambiental, pode se tornar o símbolo de uma nova forma de comunicar o clima: baseada na escuta, na participação e na responsabilidade compartilhada.

Educação salesiana
A educação salesiana, inspirada no carisma de Dom Bosco e centrada na formação integral do ser humano, pode oferecer um diferencial significativo no enfrentamento da desinformação climática. Ao unir razão, espiritualidade e afetividade, essa abordagem promove uma educação que vai além da transmissão de conteúdos, estimulando a consciência crítica, a responsabilidade ética e o compromisso com o bem comum.

Em um contexto marcado por notícias falsas e manipulação digital, o método salesiano favorece o desenvolvimento do discernimento, da escuta ativa e do diálogo entre ciência, fé e cultura. Assim, ao educar para a cidadania e para o cuidado com a criação, a pedagogia salesiana contribui para formar jovens capazes de interpretar criticamente as informações, reconhecer as implicações socioambientais de suas escolhas e agir com protagonismo na defesa da vida e da sustentabilidade do planeta.

Em tempos em que algoritmos definem o que vemos e acreditamos, combater a desinformação climática é, antes de tudo, um ato de cidadania planetária. Conhecer suas causas, desmascarar seus mecanismos e fortalecer a confiança na ciência são passos fundamentais para proteger não apenas a Amazônia, mas o futuro comum da humanidade.

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