Memórias Biográficas

150 anos da chegada dos Salesianos à Argentina – Parte 2

O capítulo 17 do volume XI das Memórias Biográficas continua a narração da viagem dos salesianos à Argentina, falando do “antes” e “depois” do embarque. A boa-noite que Dom Bosco deu no Oratório de Turim, que está no fim do capítulo, é um ótimo resumo.
Pe. Osmar A. Bezutte, SDB

“[...] Chegou o dia 14 de novembro, domingo, dia da partida. Fomos ao porto de Gênova. O navio, Savoie, já estava ancorado. Um barco nos levou até ele. O capitão fez questão de mostrar-nos tudo, abaixo e acima do convés (e Dom Bosco conta em detalhes o que viu, provocando risadas e alegria em todos).

Passamos por uma sala cheia de ricos passageiros e marinheiros, onde havia um piano. Molinari começou a tocar uma boa marcha e depois cantamos o “Louvando Maria”. O canto atraiu outras pessoas. P. Cagliero aproveitou e já começou sua missão com um sermãozinho, encerrando assim: “Hoje, em Gênova, celebra-se a Festa do Patrocínio de Maria Santíssima, e fica bem que, no momento de embarcar para uma viagem tão longa, invoquemos, cantando seus louvores, a proteção daquela que é a estrela do mar e guia segura ao porto, de acordo com as palavras de São Bernardo”. E terminou com uma belíssima exortação, dizendo que durante a viagem, todos teriam a oportunidade de ouvir a missa, confessar e comungar. Que coisa maravilhosa! Entre tantas pessoas (havia cerca de 700) não apenas naquele sermão, mas também em outros sucessivos, ninguém jamais mostrou aversão ou disse palavras de queixa. Aliás, muitos perguntaram logo onde se confessariam e foi necessário improvisar confessionários...

Os missionários não me largavam, pois a hora da despedida se aproximava e a emoção crescia. Muitos choravam. Até eu não contive as lágrimas. Ao sinal para os visitantes deixarem o navio, houve uma cena especial: todos se ajoelharam ao meu redor, pedindo a bênção. Também o capitão e alguns senhores presentes se ajoelharam.

Eles deixaram Gênova pelas 14h do dia 14 de novembro. Recebi várias cartas de Marselha, Barcelona, Cádiz, onde o navio parou por várias horas para pegar novos passageiros e fazer provisões.

No navio eles já começaram realmente sua Missão. Rezavam a Missa todos os dias com a participação de muitos passageiros; aos domingos pregavam em italiano para a maioria, e em espanhol para os outros e três vezes por semana a catequese para meninos e meninas.

[...] Neste momento em que eu falo a vocês, eles já cruzaram o equador, entraram no hemisfério sul e acredito que desembarcaram, ou desembarcarão em breve, no Rio de Janeiro, que já é uma cidade da América, capital do Brasil. A partir daí, há apenas uma parada em Montevidéu antes de chegar à tão aguardada Buenos Aires...”.

istock - Marcio Binow da Silva

“Os missionários não me largavam, pois a hora da despedida se aproximava e a emoção crescia.”

Chegada à Argentina
Já o capítulo 4 do vol. XII fala da chegada e instalação dos missionários salesianos em Buenos Aires, e pode ser assim resumido.

Os missionários desembarcaram em Buenos Aires no dia 14 de dezembro. Do navio até a sua residência provisória receberam provas contínuas de que chegavam na capital argentina ansiosamente esperados.

O Savoie entrou no porto, com fragoroso estrondo assustador, mas que se transformou em alegria apenas souberam que era a saudação aos missionários salesianos. Aproximou-se do navio um vapor trazendo um padre que logo subiu a bordo. Era o Pe. Ceccarelli, vindo receber os salesianos para conduzi-los à cidade.

os esperavam cerca de 200 italianos, entre os quais muitos ex-alunos do Oratório de Turim. Os aplausos e os gritos ecoaram longe e por muito tempo. Percorrendo as ruas em carruagem, muitas pessoas paravam e cumprimentavam com respeito.

Chegando à residência provisória, aí encontraram, com enorme surpresa, o arcebispo dom Frederico Aneyros, que os acolheu com grande bondade, abraçou-os todos, interrogando-os sobre Dom Bosco.

Quando foram à Arquidiocese para retribuir a visita, lá estavam reunidos com o arcebispo os vigários gerais e toda a Cúria. Muitas vezes o arcebispo chamou de felizes as Dioceses onde existiam casas salesianas, e agradecia de coração a Deus, que lhe havia concedido tamanha bênção.

Também todos os superiores de comunidades religiosas foram solícitos a visitar os recém-chegados demonstrando-lhes muita atenção e simpatia. Os párocos ofereceram aos salesianos todo apoio.

Entre as pessoas mais chegadas, que os acolheram cordialmente, merece menção o padre Francisco Benitez, que, apesar de seus 80 anos, viera expressamente de S. Nicolás de los Arroyos para encontrá-los. Humilde, cordialíssimo, se declarava amigo deles, enquanto estes logo começaram a chamá-lo de pai.

O eco de acolhidas tão merecidas e alegres chegou até Dom Bosco em quatro cartas, sem falar daquelas que lhe foram enviadas por padre Cagliero e pelos outros. O arcebispo, admirado e muito satisfeito, comunicava-lhe haver dado aos missionários todas as licenças para o exercício do sagrado ministério e prometia-lhe que eles o teriam como “um pai muito afetuoso e zeloso pelo bem tanto espiritual como material deles”. Também o padre Benitez escreveu-lhe em latim uma carta repleta de carinho, de gratidão e de veneração.

Também em Buenos Aires
O arcebispo havia disposto que os missionários salesianos fixassem também uma residência na capital, antes de irem a S. Nicolás, e que assumissem aí a Igreja da Mater Misericordiae, chamada a Igreja dos Italianos. Foi providencial, uma vez que proporcionava aos salesianos os meios para ocupar-se dos próprios conterrâneos. Esta igreja tinha sido construída por uma comissão de bons italianos graças à contribuição de doações populares.

O arcebispo, desejoso de prover finalmente a tantas almas, na carta já citada escreveu sobre o fato a Dom Bosco: “[Os seus filhos] farão certamente grande bem não só a S. Nicolás, mas também nesta principal onde é de máxima conveniência que abramos uma casa: o bem que poderão fazer aqui é imensamente maior daquele que poderão fazer em S. Nicolás. Somente os italianos são uns trinta mil em Buenos Aires... Creio, portanto, ser muito conveniente que seus filhos se orientem pela igreja italiana que os bons irmãos lhes oferecem. Assim farão um bem imenso aos italianos e também aos nossos”.

Saiba mais!

O Boletim Salesiano preparou uma edição especial para celebrar os 150 anos da Primeira Expedição Missionária enviada por Dom Bosco.

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Confira no link:
https://revista.boletimsalesiano.org.br/banca/2025/10/

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