Em todas as épocas, a Igreja vive o desafio de anunciar o Evangelho com autenticidade. No entanto, talvez nunca como hoje tenhamos sentido tão fortemente a necessidade de evangelizadores com o coração purificado e o olhar voltado para os últimos lugares — como nos recorda o Reitor-Mor, padre Fabio Attard, em sua mensagem: “Do jantar do fariseu ao coração no ministério”.

Evangelizar com humildade e caridade significa permitir que o coração de Cristo modele o nosso, libertando-nos da tentação da aparência, da busca por reconhecimento e da ilusão da proeminência. Na missão educativa e pastoral, o discípulo não ocupa o centro: é servo, é ponte, é presença amorosa. O verdadeiro anúncio nasce quando o educador, o catequista, o animador e o salesiano se inclinam diante dos jovens — sobretudo os mais feridos e esquecidos — e os ajudam a descobrir que são amados por Deus.

Há 150 anos, no dia 11 de novembro de 1875, Dom Bosco mandava seus filhos em missão. Os relatos das Memórias Biográficas e as cartas de Dom Bosco transbordam ternura e confiança: os missionários que embarcaram em Gênova levaram no coração a Estrela do Mar — Maria Auxiliadora — e o desejo de fazer de cada encontro uma oportunidade de evangelização. Hoje, ao celebrarmos 150 anos da chegada dos Salesianos à Argentina, não olhamos apenas para o passado heroico.

É verdade que colhemos muitos belos frutos de santidade. O mais recente é a nova santa da Família Salesiana: Ir. Maria Troncatti. Uma missionária que atravessou o oceano para transformar a vida de muitas pessoas no Equador. Olhamos também para o presente desafiador. Assim como os primeiros missionários cruzaram oceanos, somos chamados a atravessar as novas fronteiras da cultura digital, das mudanças climáticas, da desinformação e das múltiplas formas de pobreza que afetam a juventude.

A irmã Márcia Koffermann recorda, por ocasião da COP 30 em Belém, que combater a desinformação climática é hoje uma forma de evangelizar e cuidar da Casa Comum. Formar jovens críticos, éticos e comprometidos com a verdade é também proclamar o Evangelho da Criação.

O padre João Mendonça, por sua vez, convida a “articular as juventudes em tempos líquidos”. A AJS, em seu jubileu, é chamada a ser bússola e porto seguro num mundo de polarizações, inseguranças e seduções ideológicas. Não basta denunciar os males do tempo: é preciso, com os jovens, construir projetos de vida iluminados pelo Evangelho e sustentados pela esperança.

E é com essa esperança que o Fernando Peixoto faz um apelo simples e profundo: preparar o coração para acolher Jesus. O Advento é o tempo da humildade de Deus, que escolhe vir até nós na fragilidade de uma criança. É também o tempo da nossa humildade: reconhecer que precisamos Dele, que somos aprendizes no caminho do amor.

Ser salesiano hoje — consagrado, leigo ou jovem — é viver com o coração disponível e as mãos ocupadas: servindo, educando, acolhendo, evangelizando. É anunciar com a própria vida que a verdadeira grandeza está no serviço, e a alegria, no progresso dos outros.

Que Dom Bosco, Maria Auxiliadora e todos os que cruzaram mares e fronteiras pela causa do Reino nos inspirem a continuar este sonho missionário com humildade e caridade.

P. Tarcizio Paulo Odelli, SDB
Diretor do Boletim Salesiano – Brasil