Ação Social

Laudato Si’ e as Bambusoidea

Cuidando da Criação: sustentabilidade e inovação na era da Laudato Si’.
Katiane Fátima de Gouvêa

Refletir sobre a Criação é um exercício íntimo e essencial, um chamado ao reconhecimento de como nossas escolhas cotidianas podem afetar profundamente o equilíbrio e a perfeição da obra divina. As emissões de gases nocivos, uma consequência direta de nossas ações, estão provocando mudanças climáticas catastróficas e o temido aquecimento global, resultando na desertificação de terras outrora férteis e produtivas.

Em 2015, uma voz se levantou no meio dessa tempestade ambiental e social: o Papa Francisco. Ele escreveu a carta encíclica Laudato Si'. As encíclicas são mais do que simples cartas; são veículos de ensino e comunicação, fundamentais para o desenvolvimento do pensamento e da doutrina católica, e para o diálogo entre a Igreja e o mundo contemporâneo.

A Laudato Si
’O título Laudato Si', tirado de uma cantiga de São Francisco de Assis, significa “Louvado Sejas”. Nesta encíclica, o Papa destaca a importância de São Francisco para a ecologia, referindo-se à Terra como nossa “irmã”, merecedora de nosso cuidado. A Laudato Si' é um apelo à reflexão e à ação para proteger o meio ambiente e promover a justiça social. O documento pede uma mudança de mentalidade e de comportamento, ressaltando a responsabilidade moral e ética de cuidar da Terra e de seus habitantes.

A profunda sensibilidade do Papa Francisco em relação à agenda ambiental ecoa o impacto monumental da primeira fotografia da Terra vista do espaço, em 1942. Essa imagem, um ponto azul flutuando na imensidão do universo, é um lembrete de que este é o único lar que temos, a Casa Comum que Deus meticulosamente preparou para nós.

Essa consciência ganha uma dimensão crítica ao refletirmos sobre as palavras do filósofo Yuval Harari, em 2018. Ele descreveu como o aquecimento global afetará as nações de maneira desigual, ressaltando que o isolacionismo nacionalista pode ser mais perigoso no contexto das mudanças climáticas do que em uma guerra nuclear. Em meio a essa realidade, surge a necessidade de preservar a Criação divina, um chamado que nos leva ao fomento e desenvolvimento da economia do bambu no Brasil.

Bambusoideae
Do ponto de vista científico, a vida na Terra é categorizada em três grandes domínios: Bacteria, Archaea e Eukarya. No domínio Eukarya, encontramos cinco reinos principais, incluindo o Reino Plantae. Dentro deste magnífico Reino Plantae, os cientistas identificam as plantas com flores. Avançando na hierarquia taxonômica, encontramos a família Poaceae/gramíneas, com características como um sistema radicular rizomatoso. Da família Poaceae, destacam-se as Bambusoideae. Este grupo exemplifica a plasticidade ecológica das monocotiledôneas, com uma capacidade de crescer em variados climas e condições. As Bambusoideae são divididas em subfamílias e tribos, cada uma apresentando uma diversidade de formas e funções, desde bambus lenhosos a herbáceos, adaptados a diferentes ecossistemas.

Esse panorama técnico ressalta a complexidade da vida na Terra e a importância de abordagens holísticas e sustentáveis na preservação da Criação divina em harmonia com a visão do Papa Francisco e com os ensinamentos da Laudato Si'.

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No Brasil, o Centro Brasileiro de Inovação e Sustentabilidade (CEBIS) desempenha um papel fundamental na cadeia produtiva do bambu, uma sinfonia que ecoa as diretrizes ambientais e sociais globais.

Dentro do vasto e intrigante reino das plantas, as Bambusoideae combinam crescimento acelerado, estruturas robustas e uma reprodução eficaz através de sementes e rizomas. Sua capacidade de florescer em ciclos longos, que podem se estender por décadas, reflete a incrível jornada evolutiva.

Algumas características marcantes das Bambusoideae incluem seu crescimento rápido e sua estrutura lenhosa, que permite que alcancem grandes alturas. Sua reprodução, muitas vezes marcada por longos períodos de latência e uma morte subsequente à floração, adiciona um aspecto de mistério à sua biologia. Com aproximadamente 1.400 espécies, variando de anãs a gigantes, a diversidade é um de seus traços mais impressionantes. No Brasil, são contabilizadas 235 espécies nativas, destacando sua relevância no ecossistema local.

Projetos em consonância com a Laudato Si’
Em sintonia com a urgência expressa na Laudato Si' do Papa Francisco, o projeto italiano Forever Bambu, com o apoio do Vaticano, está redefinindo o papel do bambu na sustentabilidade ambiental. Com uma abordagem pioneira, a iniciativa gerencia 250 hectares de plantações na Itália, com planos de expansão internacional. A iniciativa não apenas transformou 2.200 hectares de terras degradadas na Itália em florestas de bambu, mas também um legado verde para as próximas gerações. Mais de 100 pessoas estão empregadas apenas no cultivo do bambu, e a empresa amplia seu impacto social através do processamento e da criação de produtos derivados do bambu.

O bambu transcende a imagem de uma planta de rápido crescimento e sustentabilidade; ele emerge como um sumidouro de carbono altamente eficiente e um catalisador de biodiversidade. Com sua capacidade de absorver CO2 e revitalizar terras anteriormente improdutivas, o bambu propõe uma alternativa genuinamente ecológica, que ultrapassa a superficialidade da “retórica verde”. Pesquisas apontam que as florestas de bambu podem ter um impacto ambiental até 36 vezes maior do que as florestas comuns, uma estatística que ressoa com urgência e promessa.

No Brasil, o Centro Brasileiro de Inovação e Sustentabilidade (CEBIS) desempenha um papel fundamental na cadeia produtiva do bambu, uma sinfonia que ecoa as diretrizes ambientais e sociais globais. Mediante suas iniciativas, o CEBIS entrelaça os princípios da encíclica Laudato Si' do Papa Francisco, uma melodia que ressoa com a necessidade urgente de cuidar da Casa Comum com responsabilidade, em harmonia com a natureza e práticas sustentáveis.

Katiane Fátima de Gouvêa é presidente do Centro Brasileiro Inovação e Sustentabilidade. ONG/OSCIP.

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