Memórias Biográficas

A reconciliação de um casal

Conforme as Memórias Biográficas de São João Bosco Vol. XV.
Pe. Osmar A. Bezutte, SDB

Há tempo que a Congregação Salesiana vem ampliando sua compreensão carismática, à luz da caminhada eclesial e de seus Capítulos Gerais, como também à luz das exigências da sociedade e dos apelos da educação. Um dos olhares salesianos é a preocupação não só com seus destinatários, mas também com seus familiares.

Lembrei-me da família quando li nas Memórias Biográficas um fato de Dom Bosco com um casal... Não é o momento para falar sobre a família, mas, só para lembrar que há muito tempo que esse tema vem permeando nossos documentos e nossas iniciativas.

Até seria interessante conferir o que os nossos bispos têm a nos dizer através de sua Comissão Episcopal para a Vida e a Família. Bem, vamos ao fato.


Dom Bosco encontrava-se por alguns dias em Sampierdarena, na reunião ordinária do Capítulo Superior (Conselho Geral da época).

Nos Processos Canônicos para a sua beatificação, está um fato atestado pelo padre Berto, testemunha ocular.

Uma senhora genovesa vivia em pleno desacordo com o marido. Fazia doze anos que ele não lhe dirigia a palavra: conversava com ela só através da filha. À mesa, jamais falava com ela; nunca lhe dava o mínimo sinal de atenção. Vivendo nessa situação crônica de mau humor, tinha também abandonado toda prática religiosa; por consequência, nada de missas, nada de orações. A vida em família era insuportável.

O padre Álbera testemunhou pessoalmente a eficácia da sugestão dada por Dom Bosco.

No seu desespero, a mulher, não sabendo mais a que santo recorrer, foi a Sampierdarena para encontrar-se com Dom Bosco, recomendar-se às suas orações e para ouvir alguma palavra de conforto. Infelizmente encontrou-o muito ocupado, a ponto de ele ter-lhe dito:

– Não tenho como entreter-me longamente com a senhora.

A pobrezinha mal tinha começado a contar a história do seu sofrimento e Dom Bosco a interrompeu, dizendo-lhe:

– Dê ao seu marido esta medalha.

Falando assim, pediu licença e despediu-se dela.

É difícil descrever a aflição da pobre mulher quando se viu privada daquele suspirado conforto. Encontrando-se com o padre Álbera, então diretor da casa, mostrou-lhe a medalha, dizendo:

– Como faço para dar uma medalha ao meu marido? Ele não reza mais. Quem sabe onde a jogará?

Aconselhada a seguir fielmente o conselho de Dom Bosco, ela respondeu que não tinha coragem; mas o padre Álbera insistiu na sua recomendação. Ela retomou:

– Muito bem, farei como o senhor quer, aconteça o que acontecer.

Um sábado à noite, em viagem de descanso com o esposo, a senhora, depois do jantar, criou coragem e disse-lhe que tinha visto Dom Bosco, que este tinha prometido rezar por toda a família e que oferecia-lhe uma medalha. O marido, com o rosto enrubescido, exclamou:

– Como?! Uma medalha?!

E dizendo assim, saiu da sala de jantar e foi para o quarto. A mulher, com muito medo, o seguiu. O marido, encontrando-se cara a cara com ela, desatou numa crise de choro, disse que era tempo de acabar com tudo aquilo, abraçou a esposa e prometeu que dali para frente seria outra pessoa. No dia seguinte, para espanto de todos, foram vistos juntos na missa; enfim, a paz tinha voltado àquela casa. O padre Álbera testemunhou pessoalmente a eficácia da sugestão dada por Dom Bosco.

Padre Osmar A. Bezutte, SDB, é revisor da nova tradução das Memórias Biográficas de São João Bosco (Editora Edebê).

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