Exemplos de Santidade

O jovem Pier Giorgio Frassati é proclamado santo

Pier Giorgio Frassati, nascido a 6 de abril de 1901 em Turim, na Itália, será proclamado santo no dia 7 de setembro de 2025. Saiba mais sobre o exemplo deste jovem que dedicou sua curta vida ao bem dos pobres e excluídos.
Texto: Bollettino Salesiano – Itália / Tradução: Pe. Tarcísio Luís Brasil Martins

Certo dia, uma mulher pobre bateu à porta da casa dos Frassati, em Turim, na Itália. Tinha no colo um menino descalço. Pier Giorgio, vendo o rosto daquela mulher, percebeu imediatamente que ela não era uma farsante (pessoas a quem seu pai havia proibido dar alguma coisa), mas uma mãe desesperada. Tirou rapidamente os sapatos e as meias, entregou à mulher e fechou a porta, antes que o pai ou a mãe pudessem protestar.

A primeira vez que foi à escola materna, na hora do lanche, viu um menino que chorava. Os outros tinham-no isolado em um canto, porque tinha o rosto cheio de feridas. Pier Giorgio aproximou-se e lhe disse sorrindo: “Não chore”, e o ajudou a comer o lanche, emprestando-lhe sua colher.

Uma tarde, perto da casa de seu avô, viu uma jovem freira que colhia flores no jardim. Logo percebeu que ela colhia flores para levar à igreja. Correu ao canteiro das rosas, colheu a mais bonita de todas, e foi rapidamente entregar à Irmã, dizendo: “Por favor, leve esta rosa a Jesus por mim”.

Desde os primeiros anos, muito antes que sua irmã Luciana também percebesse, Pier Giorgio tinha “visto” a surda tensão entre seu pai e sua mãe. O pai, o mais famoso jornalista de Turim, voltava pontualmente para casa ao meio-dia e à noite, para as refeições. Ficava pouquíssimo tempo com os filhos. A mãe, pintora renomada, estava quase sempre fora de casa. Desentendimentos e incompreensões se acumulavam. Não se amavam mais. Estavam juntos apenas por causa dos filhos, para que o povo “não comentasse”. Mas, à mesa, a atmosfera era tensa. Às vezes, da boca da mãe saía alguma frase amarga e dolorosa, e os olhos do pai se tornavam gelados e insensíveis. Pier Giorgio via, entendia tudo, e sofria calado. E com Luciana (quando também ela percebeu) decidiu fazer algum sacrifício para que permanecessem juntos.

Desde pequenos, Pier Giorgio e Luciana eram invejados pelos colegas. O pai, Alfredo Frassati, era advogado, e principalmente proprietário e diretor do “La Stampa”, o maior e mais famoso jornal de Turim. Em 1913 foi eleito senador, e em 1921 embaixador na capital da Alemanha. A mãe, Adelaide Ametir, tinha talento para a pintura, e seus quadros eram expostos na Bienal de Veneza.

Lábios inchados de socos
Mas, se os colegas invejavam os Frassati por causa da bela casa e do automóvel, também Pier Giorgio e Luciana sentiam inveja dos outros meninos: eram pobres, mas tinham um papai e uma mamãe que se queriam bem. Carolina Masoero, cozinheira da casa dos Frassati, testemunhou: “Não eram crianças felizes... Viviam sempre assustados”. Quando, na saída da escola (e aconteceu muitas vezes!), eram chamados com ironia de “filhinhos de papai”, Pier Giorgio largava tudo, brigava a socos e batia com a mochila. Era alto e robusto, batia forte e não reclamava por sofrer a sua parte. Chegando em casa, pedia que a cozinheira Carolina lhe pusesse água fria nos lábios inchados, e ela suspirava dizendo: “Tomara que a patroa não veja, pelo amor de Deus!”

Quem ensinou Pier Giorgio a ver Deus na beleza do céu e no rosto humilhado dos pobres? Quem, pela primeira vez, abriu com ele as páginas do Evangelho? O advogado Frassati deixou tudo completamente por conta da esposa. Mas Adelaide não entendia muito destas coisas, e deixou por conta de sua mãe, Lídia, uma senhora idosa, de uma fé muito pura, que Pier Giorgio a vida inteira chamou de “nona Linda”. Foi nos joelhos da avó que Pier Giorgio escutou os primeiros fatos da vida de Jesus, e foi de mão dada com ela que entrou pela primeira vez na igreja para saudar Jesus, cuja presença era assinalada por uma silenciosa lampadazinha vermelha.

A Eucaristia, o Evangelho, os Pobres: três “lugares” onde Pier Giorgio a vida inteira encontrou Jesus, que se tornou a sua paixão abrasadora. Três “lugares” que lhe foram abertos, revelados, pelas mãos trêmulas da avó Lídia.

“Jesus veio, e tu o mandaste embora”
Para a Primeira Comunhão foi preparado, não só pela avó, mas também pela professora Emília Giuliano e pelo Padre Grossi. Aquele encontro com Jesus Eucaristia foi uma coisa séria, muito séria. Não foi ocasião para inaugurar sapatos novos ou para se fartar de doces. Os fatos o comprovaram.

Um dia – conta Luciana – Pier Giorgio e o pai se encontraram na rua com um pobre mal vestido, que estendia a mão dizendo ter fome. “É um bêbado”, disse o pai, e seguiu adiante. Mas Pier Giorgio continuou parado, e viu naquele rosto o drama da fome e a tristeza. Começou, então, a reclamar com o pai e a chorar. O pai parou de repente, voltou e perguntou: “O que é que está acontecendo?” Pier Giorgio respondeu: “Jesus veio até nós e tu o mandaste embora!” E tanto insistiu, que conseguiu do pai a promessa de que iria buscar informações sobre aquele pobre, para ajudá-lo.

Neste período, seu tio Pedro, administrador do jornal de seu pai, revelou a Pier Giorgio uma nova paixão: escalar montanhas! Primeiro escalaram as colinas de Turim, depois a verdadeira excursão ao cume do Mucrone, a montanha de neve que Pier Giorgio contemplara subindo em uma sequoia. Vieram depois as esplêndidas montanhas do Valle d’Aosta.

A santidade de Pier Giorgio Frassati nos recorda que a verdadeira grandeza está em viver a fé de forma simples, alegre e comprometida com os pobres.

“Fracassati” e os “folhetos rosa”
No outono de 1913 Pier Giorgio entrou no Instituto Social dos Jesuítas. Não sofreu nem um só dia de timidez. Libertou-se na algazarra e nas brincadeiras, pronto até para bater, se fosse preciso. Os amigos o apelidaram de “Fracassati” (“fracassado”, em tradução livre). Levou castigos e “advertências escritas” para serem assinadas em casa (eram conhecidas como “folhetos rosa”). Mas isso não o impedia de ser um estudante dedicado, com uma vontade decidida. “Lembro – escreveu um professor – que quando começou a ser meu aluno, era lento para entender e difícil para aprender, mas nunca desistia”. Em casa e na escola ganhou um novo apelido: “cabeça dura”.

Como cristão, não permaneceu criança. Sua amizade com o Senhor se tornou grande, forte, comprometida. Depois de se aconselhar com seu confessor, decidiu receber a Comunhão todos os dias. A pureza cristalina que sempre brilhou nos seus olhos, nas suas palavras, na sua risada espontânea, ele a conquistou naquele dia.

Duas decepções, uma licenciatura e um distintivo
Terminou a Grande Guerra (1914-1918), mas a miséria que dela resultou não cessou. Ele a viu nos rostos desesperados e raivosos dos operários, que iniciaram a greve geral em 1919 e ocuparam as fábricas em 1920. Em 1918 tinha-se inscrito na Universidade. O pai desejava que ele fosse advogado, para tê-lo ao seu lado na direção do grande jornal de Turim. Mas ele se inscreveu no Curso de Engenharia, no Politécnico: “Quero tornar-me engenheiro de minas, para viver lado a lado com os operários que fazem o duro trabalho de quebrar pedras nas montanhas”.

Não foi o único desgosto que deu ao pai naqueles anos. Alfredo tinha sido eleito senador, e com seu grande jornal sustentava as ideias dos liberais. Pier Giorgio, porém, ostentava em sua jaqueta o distintivo com o escudo e a cruz do Partido Popular Católico. Um dos chefes deste novíssimo partido era Guido Miglioli, que reunia os trabalhadores braçais, paupérrimos e explorados, lutando por condições de vida mais humanas. Pier Giorgio sonhava fazer a mesma coisa entre os operários. Mas ele sabia que os pobres, que adoecem e morrem nos barracos, não têm tempo para aguardar leis mais justas. É preciso socorrê-los com urgência.

Pier Giorgio era um estudante, e, com o pai que tinha, não via a cor do dinheiro. Mesmo assim, conseguiu ajudar a muitos necessitados, “nos bairros mais remotos de Turim. Às vezes voltava para casa a pé, porque tinha doado até o dinheiro da passagem de trem; e até sem o capote, porque não hesitava em tirar e dar a algum pobre”. Luciana anotou, em um caderno, mais de 500 testemunhos desta sua doação silenciosa, humilde, sem que nem mesmo a família ficasse sabendo. Seus companheiros, nesta contínua obra de caridade, eram os mesmos amigos com quem fazia brincadeiras barulhentas no Politécnico; amigos e amigas com quem fazia escaladas sobre os montes, em rumorosa alegria.

Os pais e a irmã percebiam que ele saía de casa muito cedo, até de madrugada, e só voltava tarde da noite. Não sabiam das suas visitas aos pobres, e às vezes o pai se revoltava. Uma noite em que não voltou para casa (estava cuidando de um doente em um barraco), o pai, cada vez mais ansioso, telefonou para a polícia, para os hospitais. Às 2h da manhã percebeu o barulho da chave na porta, e Pier Giorgio entrou. O pai explodiu: “Podes estar fora de dia, de noite, ninguém te proíbe. Mas, quando fizeres isso, pelo menos telefona!”. Pier Giorgio olhou para o pai e murmurou baixinho: “Papai, onde eu estava não havia telefone”.

Nas festivas excursões pela montanha, e nos dias monótonos de estudo, Pier Giorgio começou a sentir um carinho especial por uma amiga, Laura Hidalgo. Enamorou-se dela. Tinha pressa de concluir os estudos, pois queria casar-se.

“Estou mal. Muito mal.”
Era 29 de junho de 1925. Nona Linda, a querida avó que foi a luz de sua infância, estava no fim de sua longa vida. Pier Giorgio estava transtornado por este fato, mas muito mal também por outra razão. Nos dias anteriores havia ficado ao lado de doentes pobres, sem perguntar (como sempre) se as doenças eram ou não contagiosas. Na manhã do dia 29, perto do meio-dia, a empregada Mariscia o encontrou na cama, e o repreendeu, meio na brincadeira e meio a sério, “porque é a primeira vez que o vejo bancar o preguiçoso”. Pier Giorgio sorriu, mas a dor aguda nas costas não passava.

No dia 3 de julho o pai e Luciana viajaram para Pollone, acompanhando o corpo da avó. A mãe ficou em casa, desolada. A esta altura, Pier Giorgio não conseguia mais disfarçar, e disse baixinho à mãe: “Estou mal. Muito mal”. À tarde veio o médico Alvazzi, e encontrou Pier Giorgio semiparalisado. Com olhar apavorado, pronunciou a terrível palavra: poliomielite. Era a inexorável “paralisia progressiva”, contra a qual não havia remédio naquele tempo.

Em seguida, Pier Giorgio, suando abundantemente, chamou Luciana com um gesto. Entregou a ela um envelope, onde escreveu com dificuldade suas últimas palavras. São para o amigo Grimaldi, que o acompanhava nas visitas aos pobres: “Estão aqui as injeções para Converso...”. Mostrou à irmã uma sacola de injeções e lhe entregou aquele escrito quase ilegível.

Os pobres espalham a notícia
Diante dos olhos de Pier Giorgio, que a doença estava paralisando, havia um quadro grande e luminoso de Maria elevada ao Céu pelos anjos. No quarto ao lado, para não ser ouvido, o pai chorava desesperado. Luciana apertou com força a mão do irmão, e somente às 19 horas, quando se deu conta de que aquela mão estava já enrijecida pela morte, desatou num choro convulsivo.

A notícia se espalhou em poucas horas, ninguém sabe como, nos lugares mais miseráveis, dos casebres dos pobres. Diante da porta da casa dos Frassati, e na vizinha igreja da Crocetta, centenas de pessoas rezavam e murmuram diante de Deus por ele.

“Quem era nosso filho?”
Na tarde do dia 4 de julho, a cozinheira Ester escreveu no calendário da cozinha da casa dos Frassati algumas palavras, gramaticalmente incorretas, mas comoventes: “Sete horas: perda irreparável. Pobre São Pier Giorgio! Era Santo, e Deus o quis consigo!”

Quando, em breve, o Papa o declarar “São Pier Giorgio”, alguém deverá informá-lo de que, ante dele, uma pobre cozinheira o declarou santo, em um calendário de cozinha.

Artigo originalmente publicado no Bollettino Salesiano – Itália – fevereiro de 2025, p. 30-33.

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