A missão de irmã Maria Troncatti, FMA, entre os povos Shuar e colonos no Equador não se limitou a ações assistenciais ou evangelizadoras no sentido estrito, mas foi essencialmente um trabalho de mediação, diálogo e construção de pontes, num contexto permeado por tensões culturais, conflitos e desconfiança mútua.
A comunicação como encontro
Desde seu primeiro contato com os povos amazônicos, irmã Maria Troncatti se fez próxima, aprendendo a escutar o clamor dos povos. Ao atender a filha ferida de um chefe Shuar, sob ameaça de morte caso falhasse, não apenas salvou uma vida, mas conquistou o respeito de toda uma comunidade. Esse gesto inicial expressa uma forma de comunicação que nasce da escuta da necessidade concreta do outro e se traduz em ação solidária. Sua autoridade junto aos povos indígenas não veio de um discurso impositivo, mas da credibilidade conquistada no cuidado, na compaixão e na constância de sua presença.
Irmã Maria Troncatti compreendia que o diálogo não se impõe, mas se constrói na confiança. O fato de ser chamada “Mamacita” pelos indígenas expressa esse reconhecimento: ela se tornara uma referência materna, alguém que intercedia e cuidava, independentemente de etnia, cultura ou tradição. Sua comunicação era profundamente encarnada, marcada pela coerência entre palavra e ação.
Escuta que pacifica e transforma
O ponto alto de sua missão comunicacional se deu nos anos de maior tensão entre colonos e os Shuar. Quando o clima de hostilidade ameaçava explodir em violência, irmã Troncatti fez-se mediadora, colocando-se literalmente entre os dois lados. Sua célebre frase “Se vocês realmente me amam, deponham as armas aos meus pés!” foi fruto de uma escuta atenta às feridas históricas de cada grupo e de uma leitura sensível do momento. Não foi apenas um apelo moral, mas um convite a romper com a espiral da violência para abraçar a lógica da paz.
Quando pediu a Deus que, se necessário fosse, ela seria a vítima para que a reconciliação se tornasse possível, irmã Troncatti comunicou de forma radical que a paz tem um preço: a entrega e a renúncia ao próprio interesse em favor do bem comum. Seu testemunho gerou efeitos concretos: armas depostas, corações desarmados e o início de um processo de reconciliação que, segundo relatos, perdurou por décadas.
Reconciliação como fruto da comunicação evangélica
A capacidade de reconciliar opostos, própria de irmã Maria Troncatti, estava enraizada numa comunicação inspirada pelo Evangelho. Para ela, falar de Deus significava transmitir, com a vida, que todo ser humano tem uma dignidade única e que reconhecer o valor do outro é o primeiro passo para a paz. Sua comunicação não era neutra: era engajada, comprometida com a justiça e com a promoção da vida.
Os testemunhos sobre sua vida destacam que, mais do que discursos, eram suas atitudes que arrastavam e inspiravam. Ela conseguia criar espaços de diálogo porque se colocava como “ponte” – alguém que pertencia igualmente a todos, sem tomar partido, mas assumindo o lado da reconciliação. Ao mediar conflitos, não buscava simplesmente um acordo, mas uma transformação interior das relações, para que a paz fosse duradoura.
Um legado comunicacional para hoje
A vida de irmã Maria Troncatti revela que o aspecto comunicacional da missão não se reduz a transmitir mensagens, mas implica uma profunda capacidade de escutar, compreender, traduzir e aproximar mundos diferentes. Sua experiência mostra que o diálogo verdadeiro nasce da empatia, da presença e do compromisso com a vida do outro. Em tempos de polarização e discursos de ódio, sua história ilumina caminhos para uma comunicação que não apenas informa, mas transforma.
Ao ser canonizada, Santa Maria Troncatti torna-se para todos nós, hoje, um modelo de comunicadora evangélica: uma mulher que constrói pontes onde há muros, que fala menos com palavras e mais com gestos, e que acredita na força do diálogo para gerar reconciliação. Sua vida nos desafia a fortalecermos a cultura do diálogo e da não-violência, fazendo da comunicação um instrumento de paz, capaz de criar novas possibilidades de convivência fraterna.