Juventude em Pauta

A cruz de Jesus passa pela minha vida?

Querido e querida jovem, mais uma vez no encontramos para um diálogo que pode nos ajudar a entender a cruz em nossa vida. E por qual razão abordar esse tema? Porque no mês de setembro celebramos, em toda a Igreja, uma bonita festa: a exaltação da Santa Cruz.
Me. Fernando Campos Peixoto, SDB / Foto: iStock - AndreyPopov

Na época de Jesus, a morte na cruz era o castigo mais cruel oferecido a alguém. A cruz era usada para punir os criminosos mais perigosos e rebeldes. Para os judeus, era a maior humilhação que alguém poderia sofrer. E te conto uma curiosidade: os cidadãos romanos, geralmente, não sofriam a pena da crucificação, justamente por ser considerada uma morte indigna e humilhante, direcionada aos escravizados, criminosos violentos, revolucionários políticos e povos conquistados, como os judeus.

Contudo, a festa da exaltação da Santa Cruz quer nos recordar que, com Jesus, esse dispositivo de opressão, tortura e morte ganhou um novo significado: a conquista da vida. Ela se tornou o trono de Jesus, onde Ele reina sobre a morte para nos oferecer a vida, e vida em abundância. Quando olhamos a cruz com Jesus crucificado em nossas igrejas e templos religiosos, devemos ter em mente que não estamos a exaltar Jesus morto, sem vida, vencido pela opressão, pela humilhação e pela morte; mas sim Jesus Vitorioso que manifesta ao mundo, de forma livre, o seu amor a cada um e cada uma de nós.

Assim, a cruz, para nós, cristãos, deixa de ser um simples objeto de tortura, para se tornar um símbolo da nossa fé, um caminho de esperança para a ressurreição. Torna-se, deste modo, uma grande lembrança do amor de Deus pela humanidade, da morte que é vencida pela vida e, sobretudo, um grande convite à oração, ao encontro com Jesus e à plenitude da vida.

Não há vida plena sem passar pela cruz
É também uma grande recordação para nós: não há vida plena sem a passagem pela cruz. Se Jesus passou por ela, sendo Deus, cada um de nós, discípulos e discipulas, também passamos ou passaremos. A cruz faz parte de nossa debilidade humana. Dom Bosco também passou pela cruz em sua vida, foi chamado de louco, colocado à parte, sofreu muito por seus jovens, enfrentou muito sacrifício para responder ao seu chamado. E assim aconteceu com todos os santos; nenhum deles chegou à glória sem renúncia, sem sacrifício.

Aqui chegamos ao centro do nosso diálogo, que é refletir acerca da cruz em nossa vida e da aceitação dela em nosso caminho de santificação pessoal. Sei que, humanamente, não queremos a cruz. E ressalto que não devemos procurá-la. Dom Bosco disse isso a Domingo Sávio, quando proibiu práticas de penitência excessivas, como colocar pedras no colchão. Aqui falamos da cruz cotidiana, apresentada pela vida. Cruz que é mais desafiadora, mais santificadora e mais agradável a Deus.

Hoje estamos inseridos em um mundo no qual o sofrimento é evitado a todo e qualquer custo. Não digo que isso seja ruim, ninguém deve mesmo procurar sofrer, sobretudo porque Deus nos criou para a vida, mas estou dizendo que o sofrimento, ou seja, a cruz, faz parte da condição humana e pode ser vista e vivida pelos olhos da fé.

istock / SOPHONNAWIT

A cruz não é o fim, mas o caminho onde nasce a vida nova.

O risco de uma vida anestesiada
Um importante filosofo contemporâneo chamado Byung-Chul Han fala sobre este tema no livro Sociedade paliativa. Ele faz a análise da sociedade atual, que encara o sofrimento como fracasso individual que precisa ser vencido custe o que custar. Mostra que, em busca do bem-estar, a pessoa procura qualquer resultado imediatista para deixar de sofrer o quanto antes. Problemas e questões simples do cotidiano viram motivos certeiros para a psicologização e medicalização do ser humano.

Em outras palavras, leva-se uma vida anestesiada porque qualquer cruz, qualquer sofrimento, deve ser medicado e excluído de imediato. O cristianismo, assim como Han, não está exaltando a cruz e o sofrimento, mas reconhecendo que a existência humana é composta também pelos desafios, pelo sofrimento e pela cruz.

Hoje não conseguimos, muitas vezes, nos silenciar, esperar algo, aceitar um “não”, corresponder a uma orientação espiritual, nos afastar do prazer do pecado, exatamente porque estamos acostumados a afastar todo o tipo de ação que nos causa algum incômodo. Dentro da espiritualidade é evidente: procura-se apenas o bem-estar, mas o projeto de transformação pessoal e de entrega fica para o segundo plano.

Dentro da espiritualidade cristã, assuntos como pecado, conversão, sacrificio e transformação são evitados. De fato, o cristianismo não se resume a tais temas, mas eles fazem parte. Até mesmo a cruz causa esse desconforto. Certo dia ouvi uma pessoa dizendo que se incomoda muito com o ambiente católico porque o Deus em que ela acredita não está morto na cruz. Todavia, a cruz representa nossa maior esperança: a ressurreição, isto é, a vida que vem pela entrega total de um Deus que não fugiu do sofrimento, mas passou por ele, com e por amor.

A cruz de Jesus passa pela minha vida?
A cruz, quando inserida em nossa vida, nos ajuda a moldar o nosso jeito de ser, a nossa personalidade, e a nos conhecermos melhor. É fonte para rejeitarmos o egoísmo, a mania de achar que tudo gira ao nosso redor e que a minha vida é mais importante que a do outro. Pois quando reconhecemos a nossa fragilidade, entendemos também que não somos melhores que ninguém. Por fim, acolhemos a cruz como caminho para o céu, momento em que somos provados pela fé e somos convidados a perseverar na fé em Deus e no seu seguimento.

Por isso, jovem, concluímos com a proposta de que você se faça algumas perguntas: a cruz de Jesus passa pela minha vida? Sou capaz de assumir a cruz de Jesus e perseverar na fé mesmo que tenha contratempos em minha caminhada cristã?

Deus continue te abençoando e te ajudando a olhar a cruz com fé!

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