Como bom filho de Dom Bosco, inspirado no Sistema Preventivo, desenvolvi o projeto “Quilombo Vivo”, cujo objetivo era revitalizar uma comunidade quilombola mediante a conscientização e o estímulo de crianças, adolescentes e jovens a serem protagonistas na vida, conscientes de si mesmos e do mundo à sua volta. O projeto foi realizado por meio de uma educação cidadã contextualizada, dinâmica e colaborativa, respeitando as tradições culturais comunitárias.
Tal projeto foi fruto de uma semente missionária que floresceu após visitar, em 2024, a Comunidade Quilombola Cepisa, em São João da Varjota, interior do Piauí. Apaixonado pela história de resistência daquele povo, decidi voltar, e não voltei sozinho! Após realizar uma formação junto ao Instituto de Estudos da Religião – ISER (com sede no Rio de Janeiro, RJ), escrevi o projeto e acabei recebendo todo o apoio do ISER e da Inspetoria Salesiana do Nordeste do Brasil, da qual faço parte como salesiano.
Baseando-me nos saberes e na ancestralidade do piauiense Antônio Bispo dos Santos (mais conhecido como Nego Bispo), em seu importante pensamento “contracolonialista”, me lancei no desafio. Mais do que alguém externo que viria a injetar algo, desde o início me coloquei como aprendiz dessa missão. Juntamente com as lideranças da comunidade, em cerca de dois meses foram sendo ajustadas as atividades, as datas, a aplicação de investimentos e outros detalhes, até que o projeto fosse concretizado durante uma semana do mês de julho deste ano.
Somou na missão o salesiano Narcílio Vinícius de Moura com uma abordagem audiovisual e, principalmente, com o carisma de Dom Bosco, colaborando também nas atividades do projeto. Vivemos uma imersão completa, sendo muito bem acolhidos, como integrantes da própria comunidade. Como fruto de nossas intervenções, foram feitos dois documentários, um sobre a origem do quilombo, com testemunhos dos moradores mais antigos, e outro sobre as atividades do nosso projeto.
Ao longo dos dias de execução do projeto, houve uma grande mobilização em vários ambientes da comunidade. Dezenas de crianças, adolescentes e jovens puderam participar de oficinas diversificadas, desde atividades artísticas, biointeração, biodança e capoeira, até o debate sobre políticas públicas e direitos humanos, com especial atenção ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Tudo incrementado com muita animação, jogos, brincadeiras, música e refeições! Houve também uma profunda troca intergeracional, pois estiveram presentes adultos e idosos, com palestras e roda de conversa sobre a história da comunidade.
A culminância do projeto foi uma noite cultural em que expusemos alguns frutos das produções, sendo que toda a comunidade acorreu para prestigiar as apresentações de crianças e jovens, juntamente com folclore local, Reisado, Roda de São Gonçalo, quadrilha e comidas típicas. Foi marcante ainda a inauguração de uma minibiblioteca com obras da temática afrodescendente. Momento de grande emoção foi a exibição do documentário, no qual os membros da comunidade se enxergaram como parte da riqueza inata àquele povo.
Acredito que foi cumprido o objetivo de despertar em todos o amor e a valorização das próprias raízes! Tudo se tornou uma celebração da vida do próprio quilombo, no interior da caatinga do Piauí, minha amada terra!
Amós Santiago de Carvalho Mendes, SDB, é advogado, especialista em Direitos Humanos, bacharel em Filosofia e quilombola.