A luz da tarde banhava a Arena do Centro de Eventos Padre Vítor Coelho de Almeida quando, no primeiro dia do ENAS 2025, as vozes se aquietaram para iniciar o que já parecia um pequeno milagre: dez anos de uma ação social construída em rede. Eram rostos vindos de cantos distintos do país, capitais, interiores, sertão e periferias, reunidos em Aparecida para celebrar, avaliar e projetar. Ali, entre a tradição do santuário mariano e a urgência dos desafios contemporâneos, afirmava-se uma convicção profunda: a missão salesiana se realiza na comunhão.
A abertura, marcada por palavras de agradecimento, não foi só protocolo. Ir. Silvia Aparecida, Pe. Sérgio Augusto Baldin, Ir. Maria Américo Rolim, Pe. Felipe Bauzière e Pe. Agnaldo Soares devolveram à plateia a história dos últimos dez anos. Um trajeto de escolhas, aprendizados e frutos que alcançaram milhares de crianças, adolescentes, jovens e famílias. Mais do que relatar um percurso, deram sentido ao encontro: consolidar a Rede é tornar concreto um sonho educativo e pastoral que pulsa desde Dom Bosco e Madre Mazzarello.
Reflexão e escuta
O segundo dia transformou a reflexão em escuta. Pela manhã, a combinação entre a análise crítica do sociólogo Jessé Souza e a sensibilidade pedagógica de Patrícia Machado obrigou a um olhar duplo, sobre as estruturas que excluem e sobre a centralidade dos jovens como protagonistas. Ali não se falou apenas de números ou diagnósticos: falou-se de rostos, trajetórias e esperança. “O pensamento crítico é a principal arma de uma sociedade para aprender”, lembrou Jessé; Patrícia, por sua vez, convidou os presentes a ver os jovens como peregrinos de esperança, que precisam ser escutados e empoderados.
Se as conferências abriram perspectivas, foram os testemunhos dos jovens que deram pulsação emocional ao encontro. Em relatos que iam de Manaus a Petrolina, de Campo Grande a Lorena, educandos e ex-educandos contaram como oficinas, esportes, cursos e a atenção de educadores salesianos mudaram trajetórias, melhoraram notas, abriram portas. Lívia, Rhaman, Miguel, Marienne, Geovanna, Marcus, Nilton, Leyla, Nathan e Maria Heloysa não pediam aplausos: ofereciam provas concretas de que a presença transforma.
Grupos de trabalho, memória e espiritualidade
Na narrativa do terceiro dia, o itinerário do encontro assumiu forma prática. Depois da manhã de oração e partilha, os grupos de trabalho se tornaram espaço de sinodalidade: ouviu-se, confrontou-se, consolidou-se. O assessor Eduardo Batista conduziu a sistematização das contribuições e materializou, no chamado “Quadro de passos projetuais”, compromissos e caminhos alinhados para a próxima década.
A tarde daquele mesmo dia ofereceu ainda outra dimensão: a memória e a espiritualidade. Divididos em grupos, os participantes visitaram o Memorial das Filhas de Maria Auxiliadora, a réplica da casa de São João Bosco e o próprio Santuário Nacional. Em corredores, salas e oratórios, encontraram referências vivas do carisma, rostos de mulheres e homens que, ao longo dos anos, ousaram inventar modos de estar com os jovens. A missa na Basílica encerrou esse campo sensível, unindo emoção e compromisso: ali não se celebrava apenas o passado, mas se renovava a determinação de caminhar juntos.
O quarto dia, de dinâmica mais programática, devolveu ao encontro a dimensão do envio. Pela manhã, uma oração abriu espaço para a apresentação da síntese construída coletivamente. Eduardo Batista expôs os quadros que organizam os objetivos da Ação Social para os próximos dez anos, como mapa aberto à corresponsabilidade das inspetorias. A plenária final revelou encontros, partilhas de esperança e relatos de renovação vocacional. Quando a Eucaristia de envio selou o ENAS 2025, não havia sensação de fim, mas de partida: cada participante retornaria com compromissos, planos e, sobretudo, com o peso suave de uma missão assumida em comunhão.
Articulação e partilha
Reduzir o ENAS 2025 a um simples conjunto de atividades seria ignorar sua essência. O encontro mostrou que uma ação social em rede é política, de formação e coração: política porque exige instrumentos de avaliação e indicadores; de formação porque demanda formação humana e espiritual dos agentes; e de coração porque pressupõe presença, escuta e afeto com os jovens. Entre os eixos priorizados despontam a formação de lideranças locais, a integração de metodologias educativas, o estímulo a intercâmbios e a visibilidade pública das causas que defendemos.
As vozes reunidas em Aparecida deixaram ainda um recado prático: trabalhar em rede não é sinônimo de homogeneização, mas de articulação estratégica. Ao compartilhar metodologias bem-sucedidas, economizar recursos e construir indicadores comuns, a Rede amplia sua capacidade de negociação e de implementação de projetos. Na ponta, isso significa mais oportunidades para os jovens, por meio de oficinas, cursos, estágios, vivências e, sobretudo, espaços de escuta que transformam pequenas histórias em trajetórias de vida.
No fim, o balanço do ENAS 2025 é o relato de um caminho que cresce em responsabilidade. Agora, a Ação Social em Rede entra em uma nova fase: com quadros projetuais, indicadores e, sobretudo, com novos compromissos assumidos em nome dos jovens que pedem, a cada dia, uma presença que os reconheça, os forme e os envie. Saíram de Aparecida mãos cheias de planos e corações acesos pela mesma promessa: continuar juntos, na alegria, a construir lugares onde a vida floresça.